parece ser esse o efeito da força aérea líbia sobre o nacionalismo e orgulho da população nas zonas rebeldes no leste do país, na última semana. o apelo a uma «intervenção que não seja ingerência» ganha terreno, à medida que se torna evidente que a principal ameaça ao sucesso da revolução em curso são os meios aéreos ao dispor de muammar kadhafi.
«a única urgência é a neutralização dos aviões de kadhafi», resume um funcionário da grande refinaria de brega, no golfo de sirthe, palco de uma batalha importante entre as forças do líder líbio e os rebeldes que há duas semanas se levantaram contra um regime de 42 anos.
faraj mohammed é funcionário da sirthe oil company (soc), que gere o segundo maior complexo petroquímico do país. os militares, mesmo que percebam da guerra, não entendem forçosamente de petróleos e por isso, explica faraj, ele ficou para trás, «para tentar proteger o que é de todos», via soc.
o problema é que uma bomba bem colocada na enorme refinaria de brega pode provocar uma catástrofe. os aviões, provavelmente caças sukhoi de fabrico soviético, «andam constantemente a rondar». no próprio perímetro da refinaria, vivem centenas de famílias de funcionários do complexo, «que são de cá e não têm para onde ir». pode acontecer uma tragédia humana.
em al-rajma, quarenta quilómetros a sul de benghazi, a explosão de um paiol do exército, na sexta-feira à noite, provocou dezenas de mortos e feridos graves, além de vários desaparecidos. a origem da explosão não foi estabelecida por nenhuma fonte independente mas entre a população existem apenas duas versões: um ataque aéreo com dois raides diferidos ou uma acção de infiltração das forças de kadhafi para sabotagem do depósito.
as carcaças de centenas de armas antiaéreas, calcinadas no enorme perímetro da explosão, fornecem um possível móbil para a versão que atribui uma intencionalidade à explosão.
«estamos sozinhos. há loucos que andam por aí a matar gente inocente e ninguém faz nada», diz com irritação magoada o octogenário ali, mecânico em brega. ali está de luto porque o seu sobrinho, muftah, de apenas 25 anos, foi morto num tiroteio com forças leais a kadhafi, poucos dias depois de se ter alistado como voluntário no exército rebelde.
«é preciso proteger o céu», apela o mecânico, que nasceu em tobruk, mais perto da fronteira egípcia, e viu na sua adolescência a campanha de rommel durante a segunda guerra mundial passar nesse deserto do norte de áfrica.
«o que se está a passar é pior do que a segunda guerra», grita ainda o velho.
o conselho nacional independente, uma espécie de governo de transição instalado pelos rebeldes em benghazi, chegou a apelar num comunicado a uma intervenção internacional para destruir a aviação líbia. o cni burilou, depois, o fraseado, aparentemente para evitar polémicas internas, apelando apenas a uma «zona de interdição aérea» no céu da líbia.
«do resto tratamos nós sozinhos», resumiu faraj mohammed.
um silvo denuncia a aproximação do caça e todos se deitam ao chão na entrada da refinaria. apesar de tudo, «ainda não foi desta».
* em exclusivo para o sol