o ditador líbio muammar kadhafi garantiu com petróleo, com a compra de armamento e mais recentemente com o bloqueio da emigração para a europa e o anúncio do fim do programa de armas nucleares o silêncio dos países ocidentais. o mais recente exemplo foi a libertação do terrorista abdelbaset ali mohmed al-megrahi – matou 270 pessoas que seguiam no voo 103 da pan am, em 1988, no chamado atentado de lockerbie – em troca da entrada da bp na exploração de petróleo líbio.
e os recursos energéticos continuam a estar no centro das preocupações ocidentais.
a líbia é o 17.º maior produtor mundial de petróleo. produz 1,7 milhões de barris por dia, do total de 88 milhões a nível mundial. os mais afectados directamente pela revolta líbia são a irlanda, itália e áustria, cujo petróleo líbio vale mais de 20% do total das suas importações de crude. portugal é o oitavo país do mundo que mais depende do ‘ouro negro’ líbio, com cerca de 12% das suas importações petrolíferas a virem do país de kadhafi.
problema global
o mercado petrolífero mundial está instável, com receios de que «os problemas na líbia aumentem de uma forma extrema a pressão sobre os preços do petróleo em 2011, acompanhada por um grau significativo de volatilidade», lê-se no documento de análise do barclays.
o preço do barril de petróleo já ultrapassou os 100 dólares. eua e união europeia já admitiram que se o petróleo continuar a preços tão elevados isso poderá afectar a retoma económica. o problema é que os mercados regem-se pelas condições actuais, mas também pelas futuras. por isso mesmo, um possível alastramento das revoltas populares a outros países no norte de áfrica e no médio oriente podem, segundo os analistas, provocar um choque petrolífero semelhante aos de 1973, da revolução iraniana ou da invasão do kuwait pelo iraque.
a paragem nas exportações petrolíferas da líbia – 80% das reservas estão na bacia de sirte, agora dominada pelos rebeldes –, poderá, no curto prazo, ser substituída pela produção de outros países._existe ainda uma margem de produção de quatro milhões de barris diários que não está a ser aproveitada, principalmente na arábia saudita.
«a instabilidade em países como a líbia, omã ou bahrain coloca pressão no mercado, mas na verdade do ponto de vista físico não haverá escassez. as reservas da arábia saudita dão para o mundo aguentar dois anos», explica ao sol o presidente da empresa de energia endesa portugal, nuno ribeiro da silva. «no entanto, se assistirmos a revoltas no irão ou na arábia saudita, aí o preço pode chegar até onde a imaginação chegar e teremos graves problemas de abastecimento».
argélia e nigéria preocupam
no curto prazo, as principais preocupações vêm de áfrica, onde o caldeirão social ferve cada vez mais a cada dia que passa. na argélia os protestos contra o governo estão mais intensos, apesar das promessas de criação de emprego do presidente bouteflika.
«se os problemas se agravam na argélia, enfrentaremos problemas de abastecimento, nomeadamente em_espanha, portugal, itália e frança. principalmente no que diz respeito ao gás, pois ficaremos no limiar dos problemas de abastecimento», garante o também membro do conselho mundial de energia.
outro dos maiores riscos de instabilidade é a nigéria. o maior produtor petrolífero africano terá eleições no dia 9 de abril e a violência já estalou, principalmente nas regiões petrolíferas.
«os impactos na europa só acontecerão se tivermos desequilíbrios nessa região, que nos é tão próxima. a questão decisiva é saber se esses países vão encontrar uma solução política estável ou não», diz o economista joão césar das neves, que apela a «uma solução rápida e pouco danificadora, o que evitaria efeitos duradouros no mercados».
além dos problemas que podem surgir na extracção de petróleo e de gás, o sector logístico preocupa igualmente nuno ribeiro da silva.
«a ‘rotunda’ logística do mundo está nesta área: golfo pérsico, mar vermelho, gibraltar, mediterrâneo e canal de suez. o aparecimento da instabilidade nesta região irá provocar fortes problemas de abastecimento energético», conclui.