“só faltam as enfermeiras, porque, como é comum nos países árabes, as enfermeiras são estrangeiras” e, com a crise política e uma guerra civil oficiosa, milhares de imigrantes fugiram do país na sequência do levantamento contra kadhafi, constata um elemento de uma organização não-governamental.
o êxodo das enfermeiras está a ser suprido com o recurso a estudantes universitários e a voluntários com conhecimentos mínimos de cuidados
básicos mas com grande motivação patriótica e nacionalista. é um esquema de improvisação e boa vontade revolucionária que vai fazendo o padrão
de comportamento dos senhores da rebelião líbia.
é assim na força de combate. e é assim, ironicamente, na gestão crucial dos combustíveis disponíveis em benghazi, a pouca distância das
instalações petroquímicas mais importantes do golfo de sirte.
“os rebeldes podem ficar sem combustível dentro, digamos, de uma semana ou pouco mais”, diz uma fonte internacional que chegou há dias à capital da rebelião e que, “por razões óbvias”, pede o anonimato.
“em público, os elementos do conselho nacional independente dizem que a sua maior urgência é o reconhecimento internacional dos rebeldes. em
privado, no entanto, o que estão a dizer à união europeia, aos franceses e aos britânicos é para que a comunidade internacional assista o mais
depressa possível com carregamentos de combustível”, acrescenta a mesma fonte.
a líbia tem milhares de toneladas de crude mas não possui capacidade de refinação: drama e grande ironia no país com as maiores reservas de
petróleo do continente.
na guerra pelo controlo do golfo de sirte, o combustível é essencial na logística do exército e dos rebeldes. sobretudo as milícias
revolucionárias movem-se constantemente pela estrada mediterrânica que liga trípoli a benghazi, correndo de combate para combate em viaturas civis que transportam os voluntários.
“a escassez de combustível seria fatal para a capacidade militar dos rebeldes”, resume a mesma fonte internacional.
a líbia, curiosamente, possui refinarias – três na europa, como resultado da estratégia da autoridade líbia de investimentos (lia), o
equivalente ao fundo estratégico de investimentos francês, que aplicou as receitas do petróleo e gás natural para consolidar uma posição
dominante no sector da distribuição em áfrica e na aquisição da companhia tamoil.
o especialista em petróleo e gás roger carvalho, parceiro do grupo renaissance capital em paris, explica que “a participação da tamoil, feita no tempo do embargo, permitiu à líbia diversificar activos e vender o petróleo líbio para as suas três refinarias na europa, assegurando capacidade de refinação fora do país. na prática, como todos sabiam no sector, foi uma forma de contornar o embargo”.
* em exclusivo para o sol