ModaLisboa, dia 3: A moda não é política [com fotos

No dia em que as ruas de Lisboa foram tomadas de assalto pelos milhares de manifestantes de uma Geração à Rasca, na ModaLisboa viveu-se uma verdadeira maratona, com os desfiles a arrancarem às 15h e a terminarem já perto da meia-noite. E, apesar de haver guerras políticas a serem travadas na rua, no interior do…

o dia arrancou com as primeiras propostas dos designers do espaço lab, instalado no mude. a plataforma mais inovadora da modalisboa parece ter encontrado, desta feita, uma fórmula ajustada, em que instalações de vídeo (lara torres), exposições (valentim quaresma), performances (aforestdesign) e desfiles (ricardo andrez) se afirmaram como diferentes – mas todos igualmente válidos – veículos das linguagens da moda.

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na passerelle principal o dia arrancou com filipe faísca e com a primeira grande surpresa. o designer apresentou uma colecção mista, em que as propostas para homem e mulher dialogavam num jogo de sedução apaixonante. fatos impecavelmente cortados, vestidos em viés que esvoaçavam e peças claramente influenciadas pela lingerie (fruto de uma parceria com a marca triumph) marcaram uma colecção emocional e que, uma vez mais, provou porque filipe faísca é o nome incontornável da moda nacional. a actriz maria joão bastos fechou o desfile e teve direito a ser carregada ao colo por um filipe faísca radiante. e com razões para tal.

seguiu-se aleksandar protic que se mantém fiel ao trabalho das últimas estações, mas dando um passo em frente, sobretudo ao nível do trabalho dos casacos, leggings e vestidos, em sedas, neoprene e cabedal. é o criador do detalhe, nada parece ter sido um acaso. com o tema ocidental oriental, lidija kolovrat trabalhou, até à exaustão, o padrão de folhas de árvores recortadas em cabedal. apesar de algumas propostas interessantes e bem conseguidas, a fórmula foi repetida em excesso, perdendo eficácia.

já alexandra moura levou a plateia numa viagem de tranquilidade ao ‘povo das estrelas’. inspirada nos índios e no seu incentivo para que os caras-pálidas evoluam espiritualmente, a criadora jogou com os detalhes e a mistura de materiais com diferentes volumes.

de seguida, maria gambina, após o regresso na última edição da modalisboa, voltou a trazer algum humor à passerelle. destaque para o uso das tapeçarias de arraiolos, em bordado, jacquard e estampado.

a fechar a noite, a enchente do costume para nuno baltazar, com os flashes a caírem em peso sobre a musa catarina furtado. o designer apresentou como ponto de partida os retratos femininos na obra do pintor gustav klimt. a colecção apresentou ideias e pormenores bem mais interessantes do que nos últimos desfiles, sobretudo ao nível das mangas e lapelas de camisas e casacos. ficou apenas por entender qual a ligação à obra de klimt. curioso o facto de o uso das peles e dos cabedais ser transversal a quase todos os criadores, porque mesmo em tempos de crise a moda quer-se um exercício da fantasia e um convite ao sonho. nem que seja ao sonho de tempo melhores. a moda portuguesa não é política – essa, hoje, fez-se na rua -, e não parece estar ‘à rasca’.

raquel.carrilho@sol.pt