História feita de árvores

A plantação de pinheiros permitiu fixar campos agrícolas no litoral. Hoje, a sua capacidade de regeneração é testada nos incêndios.

já no século xiii, d. afonso iii usava o pinheiro bravo para fixar dunas e proteger campos agrícolas, mas há dois mil anos que a importância das oliveiras é indiscutível.

«as árvores usadas há mais tempo em portugal continental são as oliveiras, uma vez que a produção e o consumo de azeite são referidos desde os romanos», diz ao sol josé tadeu aranha, do departamento de engenharia florestal da universidade de trás-os-montes e alto douro (utad).

o castanheiro e a azinheira também tiveram um papel essencial na cultura portuguesa: «as castanhas eram usadas como alimento e com as bolotas fazia-se farinha e, posteriormente, pão».

mas foi o pinheiro que ganhou notoriedade com a plantação do pinhal de leiria. francisco castro rego, do instituto superior de agronomia (isa), chama-lhe «a primeira intervenção florestal», num momento em que «se tentava ter mais agricultura nas zonas costeiras».

só que o pinhal acabou por servir outros propósitos – tornou-se o maior fornecedor de matéria-prima para as embarcações dos descobrimentos. «o pinheiro bravo é uma árvore de crescimento rápido mas não de grande qualidade. quando era essa a preocupação, escolhia-se a madeira dos sobreiros», conta o especialista do isa.

mas a sua importância manteve-se até ao séc. xix, quando houve um aumento da florestação para acompanhar o desenvolvimento da indústria. naquela época, os pinheiros serviam as serrações e os eucaliptos – trazidos da austrália – alimentavam a indústria do papel.

 

a velha oliveira
os apelidos mais comuns em portugal são também eles prova de que o país está enraizado nas árvores. josé tadeu aranha conclui que os nomes carvalho, castanheira, teixeira e pinheiro representam «as espécies mais antigas».

mas, em termos de longevidade, «é sem dúvida a oliveira a espécie que mais anos vive, sendo vários os exemplares com mais de dois mil anos», a crescer em conventos e adros de igrejas. seguida de alguns castanheiros com vários séculos.

os carvalhos não têm uma longevidade tão grande, porém, ainda há «povoamentos ou bosquetes com exemplares destas árvores com séculos de vida». exemplo disso é o carvalhal da albergaria, no gerês.

nas ilhas dos açores e da madeira, o seu isolamento e o facto de só terem sido ocupadas há cerca de 500 anos permitiram que a floresta que as ocupa seja muito próxima da vegetação original. como a laurissilva, na madeira, com uma história «de 60 milhões de anos».

para o especialista da utad, trata-se de «uma relíquia do passado», quando a europa e a áfrica eram ocupadas por densas florestas tropicais.

por esta razão, as árvores mais antigas de portugal são mesmo as que constituem este tipo de floresta: o barbusano, o til, o loureiro e o vinhático. às quais se tem de acrescentar o dragoeiro.

em vésperas do dia mundial da árvore e quando se assinala o ano internacional das florestas, importa repensar «uma melhor gestão florestal», que francisco castro rego considera ser a mais adequada para combater os incêndios.

«mais do que intervir com sementeiras, é preferível esperar para ver como as árvores se regeneram naturalmente», sugere o especialista em silvicultura do isa.

é certo que um pinheiro adulto ardido (com dez a 12 anos) «mantém a semente viável para a sua regeneração».

joana.andrade@sol.pt