A fadinha sonsa

A minha filha ficou inconsolável por ser a única da aula a não levar uma máscara verdadeira (deveria ter ido de fada boazinha), este Carnaval. Acha que as máscaras de Carnaval têm se der levadas tão a sério? Sara Cardoso

já estou a imaginar a professora dela, na secção de máscaras do el corte inglés, a comprar para si própria uma roupa de príncipe encantado no tamanho xl, com pompom no barrete de veludo e uma camisa de nylon azul muito brilhante, para estar a rigor com os alunos. e ficar horrorizada quando alguém de gosto menos subinfantilizado lhe aparece sem a farpela ridícula da fadinha boa. de certeza que procurou logo entre os outros alunos uma bruxa má, arrancou com fúria a varinha mágica, para lhe atirar com algum feitiço arrasador. e, depois, perante a ineficácia da varinha, quebrou irritada aquela farripa de madeira mal pintada, deixando inconsolável a sua filha.

não quero terminar com uma tradição que se tornou obsoleta, se faz a felicidade de tanta gente. mas se acaba por ser motivo de infelicidade, o melhor é controlá-la.

claro que eu também nunca iria ao corte inglés, ou mesmo a um chinês, comprar o traje rigoroso da insuportável e sonsa fadinha boa – que é talvez o traje mais picante de todo o carnaval.

para não pôr uma filha em apuros, perante o pedido do colégio, ataviava-a com uns trapos quaisquer e talvez lhe pusesse na mão um espeto do forno a fazer de varinha mágica. prefiro uma filha inconsolável, a uma verdadeira máscara de fadinha boa. e acho que esta é a maneira de levar o carnaval mais a sério.

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