depois de herman josé ter enfiado a graça na prateleira – ele que nos deu os insuperáveis o tal canal e hermanias – e a irregularidade dos gato fedorento se encontrar sabiamente em pousio, e num momento em que cabe ao humor mais extremo no laboratório da sic radical (gente da minha terra, vai tudo abaixo, programa do aleixo) garantir as únicas gargalhadas que realmente são resultantes de uma escrita humorística, a estreia da sitcom a família mata da sic é não menos do que um desastre. com um elenco de luxo, não vai muito além de uma versão actualizada em 20 anos de nem o pai morre nem a gente almoça, numa sucessão de piadolas sem piada e um constrangimento sem fim.
a intenção é óbvia: adaptar um formato espanhol, fazendo figas para que resulte tão bem quanto conta-me como foi. mas resulta numa coisa tão profundamente inofensiva que entedia antes sequer de provocar um sorriso. a escrita é tão pobre que custa a descobrir onde deveríamos encontrar as piadas.
daí que seja mais produtivo apostar as fichas todas no humor involuntário. o melhor desses casos recentes, que não se salva de ser absolutamente escandaloso mas escapa-se pelo tom tragicamente cómico de proporções absurdas, apareceu-nos esta semana pela mão do jornal da tarde da rtp1. por alturas da polémica da redução do iva no golfe de 23 para 6%, a rtp resolveu ilustrar a promoção da notícia com imagens de um vw golf. queremos acreditar que foi desleixo ao puxar imagens de arquivo, colocadas no ar à pressa e sem visualização prévia, e não a probabilidade assustadora de alguém na redacção se ter convencido de que tinham sido tomadas medidas específicas relativas a um modelo automóvel. seja como for, é triste quando o humor tem de ficar nas mãos da arbitrariedade total.