teixeira dos santos assegurou que o documento era prudente na previsão de receitas e rigoroso nas despesas. a proposta era tão inexpugnável que, na previsão da receita fiscal, tinha implícito o cenário de uma contracção de 0,7% do pib, este ano, não fosse uma recessão ‘estragar’ as contas e obrigar a mais austeridade (nota: no mesmo oe, o governo prevê um crescimento de 0,2%). menos de seis meses e um acordo com o psd (que endureceu um pouco o documento) depois, o governo anuncia mais apertos. porquê? é preciso dar a certeza ao mundo que garantimos o défice de 2011 (e anos seguintes). a resposta dos mercados ao oe, como se sabe, tem sido dada em clima de festim, com os investidores a galoparem nas taxas da república, apostados em explorar o ‘filão’ das dívidas soberanas periféricas. portugal e espanha – depois da irlanda e da grécia – têm dado muito dinheiro a ganhar a investidores que sabem que, mais tarde ou mais cedo, a ue terá de arranjar solução. o incumprimento – total ou parcial – não irá acontecer.
mas isto pouco importa ao cidadão comum, seja ou não pensionista, assim como não importam as causas (diferentes) que levaram cada país ao ponto onde está. o que importa ao comum dos mortais são duas coisas: a primeira é que ficará em breve de bolsos mais vazios; a segunda é que o governo não é de confiança, porque não antecipou, como devia, o pior dos cenários. usou paninhos quentes, choramingando as reduções salariais, os cortes nas prestações sociais, o adiar das obras públicas. não quis correr o risco de se tornar ainda mais impopular. e esse foi o maior erro de sócrates. agora é evidente que o governo já morreu. falta apenas tornar público o anúncio.
ricardo.d.lopes@sol.pt