Fez a tropa em que anos?
Em 1939 fiz o primeiro ciclo de oficiais milicianos, em Coimbra. Estava na faculdade, perdi uma cadeira e fui chamado. E depois fiz o segundo ciclo em Vendas Novas. Nessa altura comecei a aperceber-me… Houve uma noite trágica, em que estivemos à beira de entrar na guerra. Os aviões alemães, numa noite de tempestade, fizeram tudo para provocar as nossas baterias anti-aéreas. Queriam que disparássemos para terem o argumento de tomar conta da Península Ibérica.
Sentia que Portugal devia tomar posição ao lado dos Aliados?
A forma como Portugal agiu talvez tenha sido para nós, portugueses, para o nosso egoísmo, a mais sensata. Creio que se tivéssemos entrado na guerra teríamos passado um mau bocado, mas não sei se não teria sido útil para o nosso futuro, se não teria sido bom para combater o nosso espírito do deixa andar.
Nesse tempo já olhava para Salazar como um ditador?
Sabíamos que era um ditador, mas também sabíamos que talvez a ditadura fosse o sistema mais conveniente par dominar a situação. Se houvesse capacidade de resolução por parte dos portugueses teríamos claramente ido para o lado dos Aliados. Esse era o sentimento da maioria da população.
Era, nessa época, um homem crítico do regime?
Era crítico em muitas coisas. Noutras, muito sinceramente, digo-lhe que não era. Não percebia a ausência estúpida de certas liberdades, mas também não era a favor da bagunça. Havia uma censura estúpida e inútil, que não adiantava nada. Deveríamos ter aproveitado o final da guerra para ter entrado no comboio da democracia.
Depois da tropa chegou a voltar à faculdade?
Não. Percebi que era melhor seguir a carreira que me interessava do que estar a insistir. Não valia a pena tornar-me um mau engenheiro.
O que o levou a escolher engenharia?
As condições desportivas do Instituto Superior Técnico. Todas as universidades estavam a cair de podres e o Técnico apareceu com uma piscina formidável, com um ringue de patinagem, campos de basquete… Fui lá cair.
Apercebeu-se rapidamente de que não era aquilo que queria?
Sim, ao fim de um ano percebi que não tinha vocação para aquilo. Percebi que viria a ser um mau engenheiro e um mau profissional. É preferível perder um ano ou dois e seguir aquilo de que gostamos. Dou esse conselho a toda a gente.
Os seus pais reagiram bem ao seu abandono da faculdade?
Sim, nunca me contrariaram. A minha mãe teve pena, mas acabou por perceber. O sucesso que tive na profissão que escolhi compensou-a.
Quando saiu da faculdade foi já a pensar no jornalismo ou ainda punha a hipótese de ser actor?
A partir de determinada altura queria mesmo ser jornalista. No início, o sonho era o teatro, mas depois entreguei-me com muito empenho ao jornalismo, principalmente a partir do momento em que passei a ser director do Record. Acompanhava toda a feitura do jornal, adorava paginar, sentir o cheiro das máquinas, ver a saída dos jornais da gráfica… Saía do jornal às cinco da manhã.