Artur Agostinho ao SOL: ‘O Peça era a minha grande referência’ em criança

Entrevista dada ao SOL em Novembro de 2010, perto de completar 90 anos.

Voltando à sua infância. Como era o seu ambiente familiar?

Excelente. Os meus pais sempre me apoiaram em tudo. A minha mãe sabia do meu sonho da rádio. Eu vivia permanentemente a ouvir rádio, ainda naqueles aparelhos chamados galena. Ouvia a Emissora Nacional e uma estação francesa, que era a Radio Toulouse. E depois comecei a ouvir o Rádio Clube Português… Tudo isso fazia parte do meu imaginário e andava a falar sozinho pelos cantos. A minha mãe achava graça a que eu quisesse ser locutor. O [Fernando] Peça era a minha grande referência e depois havia outros locutores que vim a admirar, como o Curado Ribeiro ou o Igrejas Caeiro.

Teve uma educação muito rígida?

Não. O meu pai era um homem excepcional e sempre me ajudou. Tinha uma oficina de materiais de construção civil. Compreendia os meus problemas de juventude, as paixões de adolescência… Tenho uma grande saudade do meu pai. A minha mãe era outro estilo, mais mãe coruja, mas uma mãe admirável. Nisso tive muita sorte, tive uma família admirável.

Foi muito mimado?

Fui mimado, mas com limites. Não era alguém a quem os pais dessem tudo, mas sempre me ajudaram. Na faculdade, quando senti que estava errado na vocação que julgava ter para engenheiro e me entreguei à rádio, o meu pai também me ajudou bastante.

Antes disso fez a escola pública…

Sim. E andei na escola primária da câmara, que era ali nas Amoreiras.

Brincava na rua?

Fazíamos provas de atletismo, jogávamos futebol, jogávamos à barra… Tudo na rua. Foi uma vida saudável. Não estou nada arrependido da vida que tive e presto a minha homenagem aos meus pais, que me proporcionaram muita liberdade. O meu pai era um republicano convicto, mas respeitava a monarquia. Ensinou-me sempre a respeitar os adversários.

Tinha 13 anos no início do Estado Novo. Como é que a mudança de regime foi recebida em sua casa?

Nesse tempo havia revoluções todos os dias e as famílias reuniam-se na entrada dos prédios para discutir como iriam acabar essas revoluções. Lembro-me de ouvir o meu pai dizer: «Se o tipo – o tipo era o Salazar – fizer aquilo que diz isto vai ficar melhor depois dos sacrifícios». Por vezes penso nisso ao ouvir as notícias de hoje. Mas duvido que agora isto se resolva em três ou quatro anos [risos].

Quando começou a ter consciência de que estávamos perante um regime especial?

No final da Segunda Guerra tive noção de que as coisas não podiam continuar como estavam. Quando estava na tropa…

Voltando à sua infância. Como era o seu ambiente familiar?

Excelente. Os meus pais sempre me apoiaram em tudo. A minha mãe sabia do meu sonho da rádio. Eu vivia permanentemente a ouvir rádio, ainda naqueles aparelhos chamados galena. Ouvia a Emissora Nacional e uma estação francesa, que era a Radio Toulouse. E depois comecei a ouvir o Rádio Clube Português… Tudo isso fazia parte do meu imaginário e andava a falar sozinho pelos cantos. A minha mãe achava graça a que eu quisesse ser locutor. O [Fernando] Peça era a minha grande referência e depois havia outros locutores que vim a admirar, como o Curado Ribeiro ou o Igrejas Caeiro.

Teve uma educação muito rígida?

Não. O meu pai era um homem excepcional e sempre me ajudou. Tinha uma oficina de materiais de construção civil. Compreendia os meus problemas de juventude, as paixões de adolescência… Tenho uma grande saudade do meu pai. A minha mãe era outro estilo, mais mãe coruja, mas uma mãe admirável. Nisso tive muita sorte, tive uma família admirável.

Foi muito mimado?

Fui mimado, mas com limites. Não era alguém a quem os pais dessem tudo, mas sempre me ajudaram. Na faculdade, quando senti que estava errado na vocação que julgava ter para engenheiro e me entreguei à rádio, o meu pai também me ajudou bastante.

Antes disso fez a escola pública…

Sim. E andei na escola primária da câmara, que era ali nas Amoreiras.

Brincava na rua?

Fazíamos provas de atletismo, jogávamos futebol, jogávamos à barra… Tudo na rua. Foi uma vida saudável. Não estou nada arrependido da vida que tive e presto a minha homenagem aos meus pais, que me proporcionaram muita liberdade. O meu pai era um republicano convicto, mas respeitava a monarquia. Ensinou-me sempre a respeitar os adversários.

Tinha 13 anos no início do Estado Novo. Como é que a mudança de regime foi recebida em sua casa?

Nesse tempo havia revoluções todos os dias e as famílias reuniam-se na entrada dos prédios para discutir como iriam acabar essas revoluções. Lembro-me de ouvir o meu pai dizer: «Se o tipo – o tipo era o Salazar – fizer aquilo que diz isto vai ficar melhor depois dos sacrifícios». Por vezes penso nisso ao ouvir as notícias de hoje. Mas duvido que agora isto se resolva em três ou quatro anos [risos].

Quando começou a ter consciência de que estávamos perante um regime especial?

No final da Segunda Guerra tive noção de que as coisas não podiam continuar como estavam. Quando estava na tropa…

jose.fialho@sol.pt