face à conjuntura actual, marcada por reduções orçamentais e corte de salários, que desafios enfrenta um líder da administração pública?
há necessidade de um esforço maior de comunicação com as equipas para não deixar que surja algum tipo de desânimo por questões materialistas, para motivar e para manter o seu élan no trabalho em níveis elevados.
como é que se motiva funcionários públicos, tendo em conta as medidas de austeridade que afectam os seus ordenados?
é preciso ser bom ouvinte. quanto mais tempo tomarmos a ouvir os outros, mais aprendemos e mais informação nos chega para a futura tomada de decisão. a grande questão para a motivação das equipas é verem da parte dos líderes capacidade de resposta aos problemas. e é preciso incentivar as pessoas e premiar o mérito, para que sintam que são vistas favoravelmente quando o seu trabalho é meritório. isso é válido para as empresas e para o iapmei. a falta de reconhecimento do mérito é uma questão enraizada na cultura portuguesa. mas, quando não se reconhece o mérito, também não se penaliza o demérito. do ponto de vista competitivo, a sociedade fica num patamar mais baixo. na administração pública e no iapmei há sistemas de avaliação relativamente complexos e nem todos ficam satisfeitos com a classificação.
e com os parceiros, quer privados quer de outras entidades públicas, que desafios sente?
desde há três anos que a relativa falta de espírito de cooperação que está muito presente no modo de vida dos portugueses tem vindo a atenuar-se. com a necessidade cada vez maior de cooperarmos, há um espírito mais aberto entre as pessoas e entre instituições, entre os ministérios e a sociedade civil. a necessidade aguçou o engenho e, neste momento, os portugueses são menos individualistas e um pouco mais cooperantes.
essa maior cooperação facilita a liderança?
sim, porque permite maior comunicação entre todas as entidades, dentro e fora da organização. faz com que as decisões sejam mais participadas e com que haja mais informação até para o decisor poder decidir de forma mais fundamentada e com maior conhecimento de causa.
mas é mais difícil liderar neste contexto ou não?
é mais desafiante. no caso do iapmei, que trabalha em prol das pequenas e médias empresas (pme) e do apoio ao empreendedorismo, o grande desafio começou no verão de 2008, com dificuldades no acesso ao crédito, depois com dificuldades agudas no acesso aos seguros de crédito à exportação e depois com a dificuldade de capitalização das empresas em 2009. isso coloca novas exigências à liderança, sobretudo na criação atempada de produtos que respondam às novas necessidades. as linhas pme investe resultam daí.
as pme portuguesas baixaram os braços perante a crise?
não, pelo contrário. sentiram maiores necessidades, sobretudo a nível da internacionalização, e é para aí que estão a virar-se. o made in portugal já não é um handicap, mas uma mais-valia. já não há aquele complexo de inferioridade de esconder a origem dos produtos.
e os líderes made in portugal, são bons?
são fruto da sociedade de onde emanam. temos de tudo. desde self made men, com habilitações literárias baixas, mas que fizeram o seu percurso com perseverança e empenho. e temos uma nova geração de pessoas tecnicamente mais bem preparadas com formação académica nacional e internacional, que já têm uma visão mais alargada e globalizada do negócio. não temos, infelizmente, um nível médio de habilitações literárias muito elevado, comparando com outros países da europa. se os nossos gestores têm hoje algum handicap, é ao nível das competências de gestão. precisamos de as melhorar.
como é que os líderes das pme devem preparar-se para o futuro?
não podem ter estratégias comerciais estáticas. não será o preço que fará triunfar os produtos portugueses, porque temos a concorrência do norte de áfrica e da ásia. os produtos nacionais têm que apostar em maior valor acrescentado, em maior tecnologia e maior design, e uma política de marketing mais agressiva. o nível médio de consumo interno tende a reduzir-se devido às medidas de austeridade, e todas as empresas têm que encarar naturalmente o mercado externo, como espanha, palop e brasil.
os líderes das nossas pme estão preparados para o fazer?
têm de se formar mais rapidamente, sair da sua zona de conforto e ir à procura de novos mercados, parceiros e fontes de financiamento – que estão a escassear a nível interno –, de sócios que tragam capital, know how a nível comercial e produtivo. outro aspecto importante é a capitalização das empresas. há um nível médio de autonomia financeira relativamente baixo na maioria das empresas portuguesas.
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