recomendável
não concordo com eleições
o meu sucessor demitiu-se. seis anos depois de ser eleito.
em 2004, o presidente da república dissolveu o parlamento onde existia uma maioria absoluta.
em 2011, o presidente da república recebeu o pedido de demissão do primeiro-ministro no dia seguinte a declarar que nada podia fazer para o evitar – por ter ficado ‘sem margem de manobra’.
como mais uma vez se pode constatar, é muito importante o papel do presidente no sistema político português.
num caso, um presidente utilizou a ‘bomba atómica’ para derrubar um governo maioritário que queria continuar em funções.
noutro caso, outro presidente nada fez para ‘segurar’ um governo minoritário que dizia querer manter-se em funções.
hoje, tenho vontade de nada dizer nem nada escrever. é triste o que está a passar-se em portugal.
gostava muito de estar de acordo com quem defende eleições. com quem considera que essa solução é preferível à formação de um ‘governo de unidade nacional’. serão preferíveis três meses de comícios, de debates, de ‘carros de som’ no meio de uma crise como esta?
josé sócrates é o problema? a ‘mão invisível’ parece que começou a pensar que sim. pedro passos coelho será a solução? a ‘mão invisível’, ou a maioria dos seus dedos, pensa que sim.
alguém conhece as diferenças programáticas? não. é um mistério.
por mim, continuo a entender que portugal precisava, durante dois anos, de um governo firme e determinado, com as lideranças partidárias resguardadas no parlamento. não querem? preferem eleições? o que há-de fazer-se?
seria impossível o chefe do estado afirmar que o estado do país não tolera eleições? seria impossível o chefe do estado exigir aos partidos a formação desse governo de unidade? o problema é sócrates?
se ele é o problema, então os líderes dos partidos que têm mostrado disponibilidade para assumir responsabilidades de governo deveriam dar o exemplo de desprendimento, declarando que preferiam ‘ficar de fora’ – para, assim, o ainda primeiro-ministro poder sair, possibilitando a formação de outro governo.
por que se tem tornado impossível fazer o que é melhor para portugal?
indispensável
os partidos têm de dizer o que vão fazer
indo-se para eleições, há uma exigência básica que deve ser feita por todos os portugueses: que seja dita a verdade. que todos digam o que se propõem fazer, que medidas vão tomar para enfrentar a crise.
já várias vezes os portugueses tiveram o sabor amargo de se sentirem enganados. de terem ouvido um discurso antes de eleições e outro depois da posse do governo.
em 2005, eu fui para eleições defender portagens nas scut e uma actualização do valor de muitas rendas de casa – com efeitos sobretudo, nas grandes urbes.
em 2009, manuela ferreira leite também falou a dura linguagem da verdade.
nas duas vezes, sócrates prometeu o ‘eldorado’, o progresso, o crescimento, o emprego. e ganhou nas duas vezes. na segunda, baixou o seu resultado depois de quatro anos de poder – mas o psd ficou praticamente na mesma.
desta vez, ninguém pode prometer benesses. aliás, devia soar um apito de cada vez que isso acontecesse – como sucede quando se dizem palavras impróprias. só podem ser debatidas medidas de austeridade. cada um tem o dever de tornar claro quais as que pretende aplicar.
desejam-se tempos melhores? já sabemos. todos nós! mas, até lá, o que devem esperar os portugueses?
responsável
não celebrei a queda de sócrates
obviamente, vai ser essencial seguir a reacção dos mercados. é muito delicada a gestão de todo o processo de evolução das nossas finanças e do nosso orçamento.
é muito complicado para a economia real, para a vida das empresas. precisam de estabilidade, de confiança, de um ambiente de trabalho motivador.
admito que pessoas com altas responsabilidades acreditem que esta ruptura pode até trazer vantagens. que a queda do governo torne o ambiente mais respirável e desanuvie a pressão que se tem feito sentir sobre portugal.
quem trabalha com a realidade da economia, quem tem de renegociar com a banca a situação de pessoas ou empresas, quem tem de acordar spreads e as consequentes taxas de juro, quem tem de pagar ordenados, quem vê diminuir a respectiva carteira de encomendas, quem não consegue cobrar créditos e, por isso, não pode liquidar débitos, está muito preocupado com o que se passa.
não terá sido só pela habilidade do governo que foi conseguido um acordo, esta semana, na concertação social. os agentes económicos e os interlocutores sociais estão preocupados com os efeitos da crise política nos seus empregos, nos seus salários. as pessoas estão com medo.
por isso mesmo, é um enorme risco aquele que é assumido pelos que defendem ou permitem eleições antecipadas. estamos todos interessados em que tudo corra bem para portugal, para o dia-a-dia dos portugueses. o modo de se contribuir para esse caminho fica, naturalmente, à consideração de cada um.
como já compreenderam, não consigo funcionar com base em ódios ou aversões. tinha muitas razões para celebrar a demissão de josé sócrates, pessoa com quem nunca mais falei desde que lhe ‘passei o testemunho’ na residência oficial de são bento. e, desde esse dia, só tenho razões para não sentir qualquer afinidade. mas não consigo determinar-me por esses motivos.
estou muito preocupado com portugal.