como se esperava, colocou sobre a oposição o ónus de um eventual resgate, em mais uma encenação onde omitiu, inacreditavelmente, as causas do ponto a que chegámos.
não é o ‘chumbo’ do pec iv que vai determinar a vinda do fmi e da ue, mas sim a maquilhagem de contas que tem sido feita, a chico-espertice crónica que omite nos documentos oficiais as reais necessidades de financiamento do estado e de inúmeras empresas públicas falidas há anos. josé sócrates não é o culpado de todos os males do país – governado há anos sem visão de longo prazo. mas é o responsável pelo descalabro recente, que em muito contribuiu para a falta de credibilidade do país perante os mercados, numa altura em que as palavras-chave deviam ser confiança e verdade. sócrates está, de resto, a cair sem glória – e sim, seria possível cair com dignidade.
foi teatral o acto de abandonar o hemiciclo durante o debate de quarta-feira. e foi patética – e desrespeitosa – a saída de todos os ministros do parlamento após a votação das resoluções, ficando lacão a ‘carpir’ as mágoas do fim deste ciclo.
sócrates está isolado. e a ele se aplica um dos mais bonitos poemas de drummond de andrade que, a páginas tantas, reza assim: «e agora, josé?/ a festa acabou/ a luz apagou/ o povo sumiu/ a noite esfriou/ e agora, josé?/ e agora, você?». haverá certamente quem se preocupe com o futuro de sócrates (ele será o primeiro a preocupar-se). o importante, contudo, é o que nos espera – e não é bom. provavelmente, será pior do que merecíamos.
ricardo.d.lopes@sol.pt