Tiroteio no Little Portugal em Londres aumenta receios de insegurança

Um tiroteio esta semana em Stockwell Road, uma das ruas em Londres com mais cafés portugueses, aumentou os receios de insegurança na zona e os efeitos no negócio.

o tiroteio aconteceu na terça-feira pelas 21:00 numa mercearia ao lado do café bar madeira, onde o gerente paulo spínola assistia ao jogo de portugal-finlândia na televisão.

“não me apercebi de nada, ouvi um alarme a tocar, fui lá atrás ver se era o nosso, mas só quando fui à porta é que vi o senhor com a cara cheia de sangue”, contou à agência lusa.

a polícia chegou pouco depois e durante vários dias a zona esteve fechada para recolha de pistas.

além de um homem de 35 anos ferido, o tiroteio deixou também em estado grave uma criança de cinco anos, ambos com origens no sri lanka.

o incidente terá resultado de confronto entre jovens, que fugiram de bicicleta através de ruas e becos dos complexos de habitação social que rodeiam o bairro.

“esta é uma zona difícil”, admite o madeirense, há 26 anos no reino unido, e que diz que “nunca tinha visto nada assim” naquela zona.

os relatos de assaltos não tardam a surgir entre os clientes do pequeno café, onde começam a manhã com uma cerveja ou uma bica.

a carlos monteiro, natural de lisboa, tiraram-lhe várias notas da mão e a ana alves puxaram-lhe a mala com tal força que caiu e ficou ferida no joelho.

esta madeirense, que chegou a londres há 13 anos para férias e acabou por ficar, já não estranha a violência na área, também conhecida por “little portugal” por ter tantos negócios e residentes portugueses.

adelfina leitão, do café e mercearia sintra, um pouco mais à frente, dá conta do aumento da insegurança “de há semanas para cá”, que atribui à crise e ao corte de subsídios pelo governo.

o colega, filipe miguel, exemplifica com o caso de outro funcionário do estabelecimento, assaltado em casa do outro lado da rua por homens de cara tapada, para horror da filha.

o envolvimento de portugueses na delinquência é abordado com cautela por receio de represálias, mas a realidade é inevitável.

muitos jovens luso-descendentes vivem em bairros sociais problemáticos e terão os mesmos problemas daqueles que os rodeiam, reconhecem alguns entrevistados.

outros vincam que a criminalidade e violência já é antiga no bairro, contíguo a brixton e a clapham, duas zonas de má fama em londres.

severiano vieira, considerado um veterano na comunidade portuguesa em stockwell, onde vive há 37 anos, foi atacado várias vezes e numa delas ficou com o nariz partido.

“mesmo assim fui trabalhar porque o patrão estava fora e era eu que estava responsável” do café onde trabalhava, recordou o pensionista à lusa.

todavia, o tiroteio desta semana e a cobertura mediática que recebeu aumentou os receios de insegurança.

filipe miguel, do café sintra, refere que duas clientes espanholas ficaram apavoradas quando se aperceberam que estavam a alguns metros apenas do local do crime.

o proprietário do cantinho de portugal, pedro abreu, manifestou-se inquieto com as consequências do que chamou “coisas de canalha”.

“espero que as pessoas não deixem de frequentar stockwell, seria muito mau para todos os cafés portugueses”, admitiu.

lusa/sol