Agricultores de palmo e meio cultivam hortícolas na escola

É o último dia de aulas e as crianças estão num alvoroço. Pela chegada das férias e pela refeição que irão comer – as alfaces que plantaram, que viram crescer e que agora vão apanhar para o almoço.

odete tem apenas dez anos e já é uma jardineira experiente. os seus olhos brilham quando fala da horta da sua escola, na galiza, em cascais. dedica-se àquele espaço com tanto empenho que quase pensa nele como seu.

entusiasmar os alunos do ensino básico com a plantação de hortas pedagógicas e fazer com que respeitem mais a natureza são objectivos de um projecto desenvolvido pela empresa municipal de ambiente de cascais (emac). a missão foi cumprida com esta turma de pequenos agricultores, que chegam a proteger a sua horta das bolas de futebol lançadas pelos colegas e das ervas daninhas que teimam em invadir o terreno. antónio, de oito anos, é quem mais gosta de as arrancar.

para joão, de sete, o melhor da horta é colher o que plantaram para depois comer, como vai acontecer ao almoço. «o sabor é diferente dos produtos que se compram no supermercado», diz. «não sabem a plástico, são mais doces», acrescenta odete, que vai ter «saudades» dos seus legumes durante as férias.

mafalda soares, professora na escola eb 1 n.º 1 da galiza que o sol visitou, garante que esta é uma actividade importante para aprender a respeitar a natureza e o que ela dá. «os alunos não conheciam metade dos legumes e agora até já plantam fisális».

favas, tomate, alho-francês, batatas, brócolos ou couve-flor são outros dos alimentos que as crianças têm na sua horta, que também conta com um espaço para ervas aromáticas.

na escola também aprendem a comer de forma mais saudável através da agricultura biológica. «quase nenhum gosta de sopa, mas no dia em que se fez caldo verde com a couve da nossa horta todos repetiram», recorda mafalda soares.

odete nunca se esqueceu e fala muitas vezes desse almoço à mãe. esse é, aliás, outro dos objectivos da iniciativa: sensibilizar os pais para melhores práticas ambientais, como explica o vereador da câmara de cascais nuno piteira lopes: «além da vertente ambiental e social, pensamos também na sustentabilidade económica».

há dez anos, a reciclagem era um conceito difícil de passar às famílias. hoje são as crianças que explicam aos pais a importância da separação do lixo e nas salas de aula também já há caixotes amarelos, azuis e verdes.

mas é a terra que mais chama a atenção de odete, joão e antónio – já sabem como e quando plantar os diferentes hortícolas e até como fazer compostagem no quintal.

esta é outra das actividades que a empresa municipal promove junto das 155 escolas do concelho que aderiram ao ‘emac educa, uma aposta no futuro’, através da entrega de material como um depósito para guardar os resíduos orgânicos e um manual de compostagem.

a preocupação das crianças pelo ambiente é já tão grande que muitas chegam a pedir aos pais para usarem guardanapos de pano em vez dos tradicionais de papel.

para os adultos que vivem em apartamentos e também gostariam de plantar legumes, cascais desenvolve, há um ano, um projecto de criação de hortas comunitárias. mesmo em centros urbanos, cada inscrito tem direito a um talhão.

joana.andrade@sol.pt