Estão casados há 16 anos e têm três filhas menores. Elisabete, 33 anos, e Armindo, 42 anos, vivem numa aldeia próxima da cidade de Vila Real, numa casa onde a crise bateu à porta há já muito tempo.
O número de casais em que nenhum dos cônjuges tem emprego passou de 1.530 em Outubro para os 4.369 em Fevereiro. Indicadores que passaram a ser registados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) apenas a partir de Outubro de 2010.
Elisabete afirmou hoje à Agência Lusa que a “poupança” e o “rigor no dinheiro gasto” fazem parte do seu dia-a-dia. É esta a receita, garantiu, para a família enfrentar as dificuldades.
Trabalhou na limpeza, tirou um curso de formação e até queria arranjar um emprego a ajudar a comunidade, os mais necessitados, mas foi obrigada a ficar em casa a cuidar da sogra doente.
Já o marido trabalhou na construção civil e foi emigrante durante três anos, até que a empresa onde trabalhava fechou. Agora recebe o subsídio de desemprego e procura um novo emprego, mas, segundo a mulher, “não tem sido nada fácil”.
“Tem sido chamado para várias entrevistas, mas até agora ainda não conseguiu nada”, salientou.
Por isso, os seus dias são passados na horta que cultiva e de onde são retirados muitos dos alimentos que Elisabete cozinha.
“Se não podemos comer bife, que é mais caro, compro carne de porco ou frango. Faz-se uma boa panela de sopa e outra de massa ou de batatas. Fica mais barato e dá para a família toda”, salientou.
Elisabete considera que outras famílias que vivem na cidade estão numa situação pior que a sua, até porque, são obrigados a comprar tudo.
E deixa mesmo um conselho que gostava que o Governo ouvisse. “Há tantos terrenos a monte, abandonados, porque não incentivar as famílias a cultivar e a produzir? Assim não tínhamos que comprar tanta coisa lá fora”, sublinhou.
Nos supermercados a escolha recai sobre as marcas brancas e a fruta é comprada em caixas, que assim fica, segundo frisou, mais barato.
As prioridades do casal são as filhas de 12, 13 e 15 anos. “Não quero que lhes falte nada. Quero que elas estudem e tenham muito mais da vida do que eu tive”, sublinhou Elisabete.
É com muito orgulho que esta mãe refere que as meninas “ajudam muito em casa” e que “são muito poupadas”.
Sempre que é possível, os livros da escola passam de umas irmãs para as outras. E foi apenas por causa das filhas, que Elisabete recorreu ao programa de apoio social “Câmara Amiga”, do município de Vila Real, para pedir roupa. “Não é fácil vesti-las. Elas estão quase todas da minha altura”, salientou.
Enquanto no país apenas se ouve falar da crise e da “troika” que está a negociar a ajuda financeira a Portugal, esta família espera agora que “haja trabalho”. Armindo tem direito ao subsídio de desemprego por apenas mais seis meses.
Lusa/SOL