Equinócios e Solstícios

Passos Coelho moldou silenciosamente o partido à sua imagem.

o psd é um novo partido

uns têm a fama e outros o proveito.

por culpa alheia ou própria, de quando em vez há rumores de que vou criar um novo partido. até agora, só fama.

um ‘movimento’, sim, anunciei. mas, como disse da ‘nova esperança’ no texto da passada semana, esse ‘movimento’ não é contra o psd mas também não quer usar o psd.

já a actual equipa dirigente nunca o disse mas fê-lo: o actual psd é um novo partido, que pouco tem a ver com o que era. é melhor? é pior? essa é outra questão.

o problema não é de agora, com as listas de deputados. vem desde o início da liderança de pedro passos coelho.

vejamos quem são os dirigentes do partido ao nível mais cimeiro.

os vice-presidentes são paula teixeira da cruz, diogo leite de campos, marco antónio costa, jorge moreira da silva, manuel luís rodrigues, nilza de sena. conhece-os? são bons, são maus? por mim, conheço a maioria.

e o presidente do ipsd, sabe quem é? é conhecido: chama-se carlos carreiras, actual presidente da distrital de lisboa. sucede a nomes como alexandre relvas, mota amaral, francisco pinto balsemão, leonor beleza. é bom? é mau? adiante.

o facto é que os presidentes das duas maiores distritais do partido estão em lugares cimeiros na organização do psd ou de entidades a ele intimamente ligadas. é bom? é mau? adiante.

o director do povo livre, sabem quem é? é miguel santos. foi deputado e, durante anos, adjunto ou chefe de gabinete de marco antónio costa.

independentemente de mais considerações, ninguém poderá negar que várias destas pessoas são pouco ou nada conhecidas dos militantes e dos eleitores do psd – e que outras, sendo conhecidas, ocupam ou ocuparam recentemente lugares de comando no aparelho partidário.

no caso de diogo leite de campos, conhecido fiscalista, a sua adesão ao psd é mesmo muito recente.

repito: não estou a dizer se isso é bom ou é mau. mas daqui resulta um perfil, uma fotografia, um retrato do actual psd. são, no geral, pessoas sem história no partido ou com força no aparelho.

regressos temos os de miguel relvas, claro, mais feliciano barreiras duarte e pedro pinto – que tinham saído em 2009 com manuela ferreira leite.

as escolhas feitas pelo actual presidente do psd demonstram uma identidade. que deve ser respeitada, mas que não tem de ser aceite por todos.

quem é militante do psd e acompanha a sua vida interna sabe o que significam as escolhas que têm sido feitas.

30% dos deputados não continuam

vamos, agora, falar um pouco sobre as listas de deputados. comparemos as propostas aprovadas por unanimidade com os nomes dos dois últimos governos do psd. dos ministros de durão barroso, quem está? julgo que um: pedro lynce, que saiu a meio. do meu governo, estão dois: aguiar–branco e costa neves. estamos a falar, pois, de 3 em cerca de 35.

quanto a secretários de estado desses dois governos, em cerca de 80, para além de miguel relvas, estão mais dois ou três.

saíram das listas pessoas como luís marques guedes, josé luís arnaut, manuela ferreira leite, rosário águas, josé eduardo martins, jorge costa, josé pacheco pereira, helena lopes da costa, pedro duarte. não estão, também, entre outros, clara carneiro, rui gomes da silva, nuno morais sarmento, antónio capucho. deve ser referido que, pelo que se sabe, algumas dessas pessoas foram convidadas e recusaram. poucas, de qualquer modo. e, aqui, estamos a avaliar a resultante de todo este processo.

as listas de deputados que conheço merecem uma análise muito detalhada. é bom sublinhar que, no continente, mudaram 13 em 18 cabeças-de-lista.

é bom? é mau? esse é outro assunto.

a próxima legislatura será, seguramente, marcada pelas questões económicas e financeiras e pela revisão constitucional. certamente que esses aspectos foram ponderados na constituição das listas.

em ano e meio, cerca de um terço dos deputados do grupo parlamentar são substituídos. todos os partidos têm direito a renovar-se. não se pode é fazer de conta que isso não acontece.

nobre: o problema é a cambalhota

já foi muito debatido o convite a fernando nobre. não vou continuar com o tema. fala por si.

têm razão os que dizem que as adesões de independentes a partidos de esquerda têm sempre um tratamento mais simpático do que aquele que é concedido às ‘conquistas’ políticas do centro-direita…

mas vejamos alguns casos concretos. alguém deu importância ao facto de basílio horta integrar as listas do ps? penso que não. há muito tempo que era um compagnon de route dos socialistas. lembremo-nos de miguel vale de almeida e inês de medeiros: eram mesmo independentes partidariamente e sempre foram de esquerda.

o problema de fernando nobre é que não tem cor política. nos últimos 10 anos, já apoiou candidaturas do psd em legislativas, do bloco de esquerda em europeias e de mário soares em presidenciais.

se tivesse um percurso político coerente ao longo de vários anos, o apoio a um espaço político diferente do seu teria significado. assim, trata-se de mais uma cambalhota, neste caso requintada.

o psd mudou nas pessoas mas, como se sabe, não foi só aí. a sua liderança tem posições nos chamados temas fracturantes, idênticos às dos partidos mais à esquerda.

será tudo isto indiferente? não é matéria suficientemente interessante para a comunicação social?

em portugal, um de dois pecados está muito instalado: a preguiça ou a falsidade. preguiça, porque não se faz o trabalho de investigação analítica; falsidade, porque se finge independência quando há cumplicidade.

ouvir-se que estas listas do psd são abrangentes e não contestar é incompreensível. ver sair um constitucionalista – esse sim – como jorge bacelar gouveia, quando vai haver revisão, e não se estranhar, é censurável. saber da importância das matérias financeiras e não se cuidar de quem vai tratar delas é inexplicável.

sente-se a mesma indulgência que se sentia em 2005. um género de «depois logo se verá» …