há uma semana, rtp1, sic e tvi – mas sobretudo o canal estatal – viram-se em palpos-de-aranha, sem saber o que fazer da transmissão do casamento real, num equilíbrio impossível de conseguir entre informação e entretenimento. se a sic manteve no ar júlia pinheiro e a tvi chamou manuel luís goucha, estabelecendo uma ligação aos programas da manhã, a rtp1 enviou uma delegação que se mostrou sempre desconfortável naquele papel.
dada a natureza do acontecimento – de interesse eminentemente ‘social’ –, bastava seguir a mesma táctica aplicada na passadeira vermelha dos óscares para descobrir no e! entertainment a abordagem certa: gente que comentava roupas e chapéus como se cochichasse no próprio casamento, comparando roupas de princesas às vestimentas de lady gaga, explicando aos espectadores norte-americanos que kate middleton é proveniente «da nova jérsia britânica», tratando o assunto sem os salamaleques excessivamente deferentes das nossas televisões.
mas todos os males fossem estes. esta contaminação crescente da informação pelo entretenimento tem alastrado aos telejornais de forma cada vez mais flagrante. é quase diária a utilização de vídeos humorísticos, que se espalham pela internet de forma viral, promovendo a informação séria fait-divers que nunca deveriam ser tidos como notícias. é o reflexo galopante do ‘efeito facebook’, no qual a divulgação da morte de bin laden é servida com a mesma relevância do que a partilha do que é o jantar do vizinho da frente. e depois, para cúmulo, ainda temos gracinhas dentro dos noticiários, como fez a tvi depois do ‘dilúvio’ em benfica: «troika de granizo, chuva e trovoada». nem tudo é conversa de café.