o responsável pela carnificina, o chefe carismático da jihad, o novo símbolo do mal, chamava-se osama bin laden. vinha de uma família saudita, de origem iemenita, abastada mas sem poder político, por não pertencer à casa real. combatera como voluntário os ateus soviéticos no afeganistão.
expulsos os soviéticos, chacinados os comunistas afegãos, que antes tinham chacinado os anticomunistas afegãos, osama voltara-se contra outros infiéis, os que, ávidos do ouro negro, ocupavam as terras santas do islão de conluio com os seus corruptos líderes. como hassan-al-banna e sayyid qutb, os chefes e doutrinadores dos irmãos muçulmanos, sofria a decadência do islão, que, dos tempos do califado e do domínio do mediterrâneo, passara a espaço colonial, dominado e humilhado por cruzados e judeus. como os seus irmãos e mestres, odiava o individualismo, o materialismo, o secularismo do ocidente, da américa. partiu então em cruzada contra ‘os cruzados’.
quem ler na íntegra os textos de bin laden – em vez das transcrições jornalísticas – percebe que não é apenas de um profeta fanático, um caudilho apocalíptico que se trata, mas de um político que pode bem ter lido maquiavel, gramsci, lenine e hitler. um político que fez uma análise fundamentada do inimigo: do inimigo próximo – os líderes árabes corruptos – e do inimigo longínquo – o ocidente, os estados unidos.
contra o inimigo principal – político e próximo – a estratégia era privá-lo do seu apoio: o inimigo longínquo, a américa que, com o ataque de 11 de setembro, quis intimidar, dissuadir, aterrorizar.
o seu anti-americanismo simplista, baseado na fuga da somália e nas patéticas retaliações da administração clinton, levou-o a menosprezar a américa como inimigo. pensou-a decadente, corrupta, um tigre de papel.
se tivesse lido uma história da guerra civil norte-americana e as memórias e experiências de inimigos da américa em guerra total teria tirado outras conclusões. veria como sherman dera cabo do moral dos combatentes da confederação, incendiando-lhes as cidades e atacando-lhes as famílias no sul; como tinham ficado as cidades do vale do reno; como os marines tinham conquistado, ilha a ilha, à granada, à baioneta e ao lança-chamas, o império do japão e como arrasaram hiroshima e nagasáqui.
e se visse filmes americanos teria percebido que, enquanto, para os europeus, o herói era o ‘perseguido’, o ‘fugitivo’, para os americanos era o perseguidor, o que caçava o vilão. nos filmes de cowboys, de gangsters, de espiões, nos filmes negros, nos thrillers, o encarniçamento era a virtude ou o vício capital de xerifes, detectives privados, ‘fbis’ incorruptíveis e caçadores de serial-killers, pedófilos ou terroristas.
pela religião também podia lá ter ido: ele que conhecia o deus dos exércitos do crescente, esqueceu-se que os seus inimigos ‘cruzados’ vinham do bible belt, que pouco tinha que ver com o doce jesus da outra face, mas muito com aquele deus puritano, o jeová dos trovões, dos pilgrims e da cidade sobre a colina. cidade que ele atacara.
quando, ao cair da noite de domingo, os ‘helis’ desembarcaram as equipas de seal que limparam o compound de bin laden e o mataram à queima-roupa, era o braço longo dessa américa que chegava, dez anos depois, à casa e ao sono do inimigo.
barack obama, no seu papel de líder do ‘povo eleito’ e de candidato à reeleição, fez um discurso consentâneo com esta história bíblica de olho por olho, dente por dente. e a ‘rua americana’ foi tão festiva como noutras ocasiões o tem sido a rua árabe. nem mais nem menos.