reza a história que a cada 12 e 13 de maio chegam centenas de milhares de pessoas ao santuário de fátima. ao acolher entre cinco a seis milhões de visitantes por ano – 20% a 30% serão turistas religiosos –, é o sétimo local cristão mais visitado do mundo e assume-se como ex-líbris do turismo religioso em portugal. ainda que não existam estatísticas oficiais, estima-se que este tipo de turismo represente 10% do movimento turístico total em portugal e que possa gerar receitas até 700 milhões.
quase ‘abençoado’ pela visita papal de há um ano, e apesar de ainda ser um produto de nicho, o turismo religioso é cada vez mais uma aposta. permite diversificar a oferta e combater a sazonalidade nalgumas regiões, tirando partido do património nacional, 75% do qual de cariz religioso.
«este tipo de turismo deverá continuar a crescer e a incrementar o nível de receitas geradas», acredita o secretário de estado do turismo. para bernardo trindade – que, em fevereiro, apresentou a revisão do plano nacional de turismo (pent), onde o turismo religioso passa a estar integrado, incluindo-se no turismo cultural e paisagístico –, esta realidade «assume uma enorme importância no nosso panorama turístico». porquê? «pelas potencialidades da oferta em desenvolvimento e pela grande procura a nível internacional». além de fátima, o governante aponta as romarias da senhora d’agonia (viana do castelo), e do senhor santo cristo (ponta delgada) e os santuários do bom jesus e sameiro (braga).
«batemo-nos bastante para que a revisão do pent contemple o turismo religioso. as pessoas mais idosas e com mais poder de compra da europa e da américa podem ser atraídas para o país, a partir da notoriedade de fátima», concorda o presidente do pólo de turismo de leiria-fátima, david catarino.
«é preciso dar mais expressão» aos programas de turismo religioso, entre outros, defende também o psd no seu programa eleitoral, apresentado no domingo passado.
turel cria agência de viagens
para estimular este mercado, autarquias e entidades turísticas têm criado rotas centradas no património religioso (mosteiros, igrejas, arte sacra). há um ano, o turismo do porto e norte constituiu uma delegação em braga dedicada ao turismo religioso. meses antes, já tinha aberto uma loja turística perto da catedral de santiago de compostela, em espanha, para se promover.
no início deste mês, ficou a saber-se que oito municípios de vila real, douro e viseu vão unir-se para reanimar o caminho português interior para santiago de compostela, recuperando 160 quilómetros de estradas. e vários edifícios públicos serão reconvertidos em albergues de peregrinos para desenvolver as economias locais.
já a turel, cooperativa de turismo cultural e religioso, que engloba dioceses, santuários e autarquias, deverá lançar uma agência de viagens, em junho, especializada neste segmento. terá um balcão em braga e presença na internet. «perspectiva-se que este turismo cresça. motivadas pela fé, em períodos de crise, as pessoas recorrem mais», antecipa o director técnico da turel, varico pereira.
«temos um património riquíssimo, que poucos países têm, que nos permite ter oferta», argumenta o responsável. e defende que «é preciso criar linhas de apoio à conservação e adaptação do património e à organização de produtos de turismo cultural e religioso, para os promovermos e atrairmos turistas».
portugal vai ter hotel kosher
com um museu e cemitério judaicos e uma sinagoga, belmonte – que tem uma das comunidades judaicas mais antigas do mundo, com 140 elementos – também quer investir no turismo cultural e religioso, ambos muito associados.
depois da criação da rede de judiarias de portugal – projectada há vários anos, e oficialmente constituída em março, com municípios com herança judaica e entidades regionais de turismo – portugal está a reforçar a sua oferta para a comunidade judaica. «há hotéis que acabaram 2010 com mais de mil dormidas de judeus, sobretudo na guarda, trancoso e covilhã», detalha o presidente do pólo de turismo da serra da estrela.
jorge patrão adianta também que este ano deve arrancar o primeiro hotel kosher – designam-se assim os produtos certificados para consumo por judeus, seguindo preceitos religiosos – em portugal. com investimento de dois milhões de euros, de um membro da comunidade judaica, será um três estrelas, perto do centro de belmonte, com 27 quartos, e deverá abrir em 2012.