A cura está nos pés

Sem maquinaria ou ferramentas, o diagnóstico faz-se pelo toque nos pés. A reflexologia detecta problemas de saúde depois de uma simples massagem com óleo de árnica (com infografia)

a partir da base é possível avaliar o estado do corpo – dos olhos ao pâncreas, todos os órgãos estão representados nos pés. e com o estímulo certo, pressão dos dedos ou massagem, as dores diminuem e a circulação melhora.

a reflexologia é mais do que uma massagem, «é uma ciência porque se baseia no estudo fisiológico e neurológico», afirma manuela ferreira, terapeuta de reflexologia há 11 anos. e uma arte, pois depende «da habilidade com que se aplica o estímulo adequado a cada condição».

segundo a especialista, esta terapia tem importância ao nível da manutenção e da recuperação da saúde, mas também uma componente preventiva. «podemos antecipar problemas». e dá o exemplo de uma colega que se queixava quando era estimulado o ponto correspondente à tiróide e «mais tarde soube que sofria de hipotiroidismo».

não se trata apenas de aliviar a dor e os problemas circulatórios, digestivos ou sexuais, mas também os de ordem emocional, «como a ansiedade, o stresse e a depressão». a massagem activa a cura, ou seja, a cada nova sessão de reflexologia reforça-se a sensação de bem-estar.

as informações dadas pelo corpo são surpreendentes até para os cépticos das terapias alternativas – a própria observação das unhas, dos tornozelos e dos calcanhares serve para fazer uma avaliação.

mas o que mais distingue a reflexologia de outros tratamentos é o facto de se conseguir fazer uma viagem pelo corpo, incluindo o estômago, os rins, os olhos e a coluna, sem sair do alcance do pé. e foi essa viagem que nos propusemos fazer para escrever este texto.

manuela ferreira sublinha que «não é preciso maquinaria nem produção. aqui, o diagnóstico faz-se com conversa, toque e a empatia que se cria com o paciente». e acrescenta que as primeiras melhorias no estado de saúde sentem-se logo «no sistema neurológico, digestivo e a na qualidade do sono». e é verdade.

os primeiros momentos da sessão servem para relaxar, com o contributo de umas toalhas quentes, com as quais a especialista envolve os pés do paciente antes de ‘pôr a mão na massa’. depois, dá-se início ao diagnóstico.

o toque começa no dedo grande do pé esquerdo, que corresponde ao coração. os nós dos dedos começam a testar a sua capacidade de resistência à pressão feita pela massagem terapêutica, com óleo de arnica. a ponta do dedo revela o estado do cérebro; numa posição mais abaixo percebe-se como está o pescoço. na zona por baixo dos dedos, passa-se para a avaliação dos olhos.

à medida que a pressão das mãos da terapeuta aumenta, o pé encolhe-se. chega-se ao ponto que corresponde aos rins e a estimulação revela que qualquer coisa não está bem.

sem o saber, manuela ferreira identifica um problema que já era conhecido, mas que não tinha sido comunicado: um cálculo renal. as revelações não ficam por ali, uma vez que as peles soltas, perto do calcanhar, também denunciaram um mau funcionamento dos ovários.

no pé direito, a terapeuta identificou retenção de líquidos no tornozelo, justificados pelo mau funcionamento do rim. feito o balanço, o rim e os ovários precisam de maior atenção, que também começa por uma melhor alimentação. a mudança dos hábitos é um dos conselhos mais repetidos.

apesar do tabaco, os pulmões e os brônquios não inspiram grande preocupação.

após a massagem, e com os pés ligeiramente doridos, o bem-estar é confirmado por uma sensação de energia e força. à noite, chega uma espécie de cansaço bom que faz com que as horas de sono sejam dormidas de uma vez, sem sobressaltos.

é, talvez, por esta qualidade do sono que a maior parte das pessoas que recorrem às mãos de manuela sejam já de alguma idade. a paciente mais velha tem 84 anos: «querem diminuir a quantidade de medicamentos que tomam. e são pessoas mais despertas para estas terapias».

a reflexologia tem pelo menos cinco mil anos e está bastante desenvolvida no egipto e em países como a china e o vietname.

na escócia há um hospital de medicina tradicional que utiliza esta terapia, a par das intervenções normais de prevenção, diagnóstico e cura. «esse era o meu sonho, trabalhar num hospital em lisboa em que pudesse ajudar os outros», revela manuela ferreira. e queixa-se do facto de, em portugal, não haver «a filosofia da manutenção e da recuperação da saúde, pois só se vai ao médico quando há um problema».

desconhecida por muitos, a sua divulgação poderia passar pelas crianças, «muito mais receptivas e disponíveis para a descoberta». por outro lado, os adultos não estão habituados a serem tocados, «em especial, nos pés». no entanto, são das partes do corpo que mais precisam de bons estímulos e até de mimos – «suportam a estrutura do corpo».

as sessões com manuela ferreira são feitas na casa do paciente, forma que a terapeuta encontra para o conhecer melhor – está no seu espaço. mais informações pelos e-mails mmanuelamferreira@gmail.com ou info@e-macrobiotica.com. o preço de uma sessão varia entre os 35 euros e 45 euros.

veja aqui a infografia

joana.andrade@sol.pt