‘Há preconceito quanto ao turismo religioso’

Docente no departamento de Ciências Sociais da Escola Superior de Educação de Leiria, desde 1989 que Graça Poças Santos faz investigação em turismo, sobretudo religioso. E diz que este segmento pode ganhar com a crise.

fala-se mais de turismo religioso. porquê?

as pessoas quererem ocupar os seus tempos livres praticando turismo, mas, neste caso, com motivação religiosa. como estamos numa situação económica difícil, este é um mercado que tende a crescer. e também tem a ver com a evolução da sociedade. estamos a assistir a uma diminuição do número de crentes de certas religiões e a um aumento de uma prática mais individualizada. mas em portugal ainda há muito a fazer para este segmento ser mais acarinhado. embora já faça parte do pent, existe preconceito face a este tipo de turismo.

preconceito em que sentido?

basta falar de religião e as pessoas ficam arrepiadas. não é levado tão a sério como outros turismos. as pessoas confundem e acham que turismo religioso e peregrinação é a mesma coisa.

a crise pode ter impacto no turismo religioso?

tem impacto positivo. há sempre mais pessoas, exactamente porque estão mais aflitas e sentem a necessidade de recorrer a locais onde encontram paz, conforto. é um tipo de turismo que reflecte menos a conjuntura económica desfavorável.

qual é o perfil do turista religioso?

há confusão entre peregrino e turista religioso, que tem motivação mas acrescenta outras vertentes, como a cultural, gastronómica e de lazer. pode ir a fátima, mas depois vai almoçar à nazaré. o peregrino tem motivação exclusivamente religiosa. vai a fátima e volta. em fátima, os turistas religiosos são maioritariamente do sexo feminino, a média de idade é de 45 anos, enquanto a do peregrino é de 60. trabalham sobretudo no sector terciário. há um peso bastante interessante dos estrangeiros e quase um terço são católicos não praticantes.

ana.serafim@sol.pt