fazia sentido. após séculos de hegemonia no mediterrâneo oriental, os turcos tinham entrado em crise no século xix. a guerra de independência da grécia, a guerra da crimeia, a instabilidade política e a decadência financeira dos últimos anos do século xix, qualificavam-nos como um poder em perda. o conflito com a itália em 1911 por causa da líbia e as guerras balcânicas de 1912 e 1913 tinham-nos enfraquecido mais.
a entrada na guerra ao lado da alemanha, em novembro de 1914, fora uma decisão de enver paxá, o chefe do governo dos ‘jovens turcos’. para ele, a rússia era o inimigo histórico do império turco e os alemães eram menos ‘colonialistas’ que os ingleses e franceses.
em londres, em paris e em s. petersburgo, os ‘colonialistas’ e o inimigo histórico pensavam naturalmente na divisão e partilha dos territórios turcos do médio oriente. mas os turcos, embora em crise política, continuavam a ser bons combatentes. em galipoli, a sua resistência (um dos chefes militares era mustafa kemal) frustrou os planos estratégicos dos aliados de abrir uma terceira frente contra a fortaleza centro-europeia.
desta resistência veio, também, a ideia da primeira ‘revolta árabe’. os ingleses pensaram usar as aspirações autonomistas dos povos e líderes da região submetidos a constantinopla para criarem insegurança na retaguarda turca.
a imagem dessa revolta árabe ficará para nós sempre ligada ao admirável t. e. lawrence, recriado por david lean e peter o’toole em lawrence da arábia. no filme, o aventureiro conduz uma guerra subversiva por conta própria, estabelecendo relações de lealdade e fraternidade com os seus aliados árabes.
os ingleses negociaram com o xerife hussein, de meca, o chefe da dinastia hachemita, que em 1916 pregou a guerra santa contra os turcos e mandou os seus guerreiros, chefiados pelo seu filho faiçal (alec guinness, em lawrence da arábia), sabotarem as linhas férreas de hejaz e conquistarem acaba. outro grande aliado de lawrence foi auda abu tayi, o chefe tribal, encarnado por anthony quinn.
mas ao tempo que allenby (jack hawkins) negociava este acordo com hussein, os ingleses negociavam com os franceses o que ficaria conhecido como o acordo sykes–picot. concluído em 1916, o acordo dava o líbano e a síria aos franceses, guardando os ingleses as províncias de bagdade e de bassorá, ricas em petróleo.
em 2 de novembro de 1917, para ganhar para a causa aliada o apoio dos judeus americanos e russos, lord balfour, chefe do foreign office, garantia o estabelecimento dos judeus na palestina («his majesty’s government views with favour the establishment in palestine of a national home for the jewish people»).
ibn saud, que expulsara os turcos de hasa, esperava a sua hora: o conflito entre os wahabitas e os hachemitas ia ser permanente com progressiva vantagem para os sauditas que, em 1924, conquistaram meca. o grande chefe da ‘revolta árabe’, o hachemita hussein, acabaria por morrer no exílio, abandonado pelos aliados britânicos.
estes tinham estabelecido três acordos diferentes, com parceiros diferentes, para os mesmos territórios. razão teve david fromkin ao chamar ao seu livro sobre a partilha do império turco a peace to end all peace (uma paz para acabar com toda a paz). até hoje.