Equinócios e Solstícios

É ridículo que comentadores televisivos passem horas e horas a fazer interpretações – e aqueles que vão decidir em nome dos seus compatriotas tenham um tempo tão limitado para debater os assuntos.

sugestão

o debate entre sócrates e passos coelho é importante para os indecisos

o debate entre josé sócrates e pedro passos coelho, na noite desta sexta-feira, 20 de maio, pode ajudar a decidir muitos indecisos.

espera-se que os dois candidatos a primeiro-ministro tenham oportunidade de esclarecer os portugueses sobre uma série de assuntos que têm sido secundarizados ou mesmo ignorados. passo a dar alguns exemplos.

fará ou não sentido que discutam a privatização da caixa geral de depósitos? penso ser óbvio o interesse – e será bom que o líder do psd clarifique a sua posição na matéria. o mesmo para o caso das águas de portugal. será importante, também, que cada um diga o que pensa sobre as privatizações da tap e da ana, e respectivas consequências para portugal, a vários níveis.

já agora, seria importante que falassem sobre o aeroporto de beja e outras infra-estruturas aeroportuárias. isto, porque parto do princípio de que a ideia de um novo aeroporto está afastada por tempo indeterminado.

quanto ao ambiente e à política energética, estarão ambos de acordo com o apoio às renováveis? defendem a construção de barragens? são a favor ou contra a energia nuclear? e quanto à desregulação, à liberalização, ao futuro da edp?

uma área praticamente silenciada: a reorganização do estado. defendem a regionalização? são firmes quanto à necessidade de extinção dos governos civis? e o que pensam das ccdrs? é que esta nova legislatura também disporá de poderes de revisão constitucional.

noutro plano: o que defendem sobre o pagamento do iva? e a propósito do pagamento especial por conta, têm algo a dizer? e sobre a compensação de créditos com o estado?

diversificação

queremos outros temas

já nem falo do modo como cada um dos candidatos vê o papel e a actuação do presidente da república. e sobre a mudança do sistema eleitoral. e o segredo de justiça,

na política externa, o que pensam do futuro do euro? e do papel da alemanha na união europeia? e sobre a nossa representação externa? quererão encerrar embaixadas?

quanto à política de segurança interna, o que entendem relativamente à articulação entre os ministérios da justiça e da administração interna? admitem a fusão? e sobre a dispersão de estruturas de informações por diferentes polícias e serviços?

falo destes temas como poderia referir outros – porque genuinamente entendo que seria útil ouvir ambos sobre essas matérias. mas também para demonstrar como os debates se têm concentrado demasiado na tsu e nas responsabilidades do pec e da banca.

notem que não referi temas como a defesa nacional, a saúde, a educação ou a agricultura. e posso colocar uma questão muito concreta. tenho ouvido falar do subsídio de desemprego – mas qual é a posição dos diferentes candidatos sobre o rendimento social de inserção?

obrigação

deixem as culpas e discutam o futuro

em minha opinião, justifica-se mais do que um debate entre os candidatos.

é ridículo que comentadores televisivos passem horas e horas a fazer interpretações – e aqueles que vão decidir em nome dos seus compatriotas tenham um tempo tão limitado para debater os assuntos.

a situação em que o país se encontra justificaria que proporcionassem aos portugueses as necessárias ocasiões para o devido esclarecimento. não é por acaso que existem tantos indecisos, quando muitos esperariam que os estudos de opinião, nesta altura, dessem resultados bem diferentes.

portugal foi muito prejudicado por ter de tratar da ajuda externa num quadro pré-eleitoral. considero o acordo com a troika um documento muito insuficiente e limitado sobre a maneira de olhar portugal.

basta o documento ignorar a triste realidade da desertificação que assola cada vez mais parcelas do território nacional para não haver dúvidas sobre a sua ligeireza. noutro plano, fala da reforma do poder local mas nada diz sobre a reforma do estado central.

alguns dirão: ainda bem que o documento não fala de tudo.

ficam, pelo menos, essas reformas guardadas para a nossa vontade soberana. reformas que já deveríamos ter feito, por nossa iniciativa, há muito tempo.

as duas pessoas que hoje vão debater as suas propostas para o presente e o futuro têm a obrigação de deixar o passado para trás.

ninguém tem dúvidas sobre as responsabilidades de cada um: sócrates é o grande responsável pelos resultados de seis anos, e passos coelho é, em parte, responsável pelo que se passou nas últimas seis semanas. já sabemos! e como já sabemos – e estamos muito preocupados com o futuro de portugal – queremos que deixem as culpas e falem dos vossos projectos. é o mais importante.

o grande objectivo de quem vai governar portugal deve ser retirar-nos da situação de quase ‘protectorado’ em que nos encontramos.

as culpas são dos políticos, dos macroeconomistas, dos banqueiros, da supervisão, da fraca produtividade, dos juízes, dos procuradores, dos deputados, dos jornalistas, de quem quiserem.

mas, mais importante do que as culpas, é a vergonha por que temos passado. portugal tem de reencontrar o caminho da plena dignidade, tão maltratada nos últimos tempos. não é só voltar aos mercados. é voltarmos à independência da soberania.

pedro passos coelho e josé sócrates estão nos lugares que ocupam por escolha dos seus partidos. são eles e não outros. portugal tem de saber o que deve escolher.

principalmente os que estão indecisos entre o voto útil e o voto por convicção, podem tomar hoje uma decisão.

paulo portas, francisco louçã e jerónimo de sousa vão estar à espreita.

portugal está à espera.