Equinócios e Solstícios

A campanha eleitoral foi muito difícil. Foi uma campanha num país a arder. A arder de uma estranha febre de desânimo, de desilusão, de desmotivação.

multiplicidade

portugal precisa de um poder político forte

disputar eleições com o país à beira da ‘bancarrota’ não é nada fácil. é um horror. os portugueses, mesmo assim, são generosos porque, com tanta frustração que têm sentido com o que lhes é prometido face ao que é conseguido, tinham mais do que razões para nunca mais apoiarem ninguém. mesmo assim, participaram razoavelmente.

portugal precisa, agora, de um poder político forte que possa começar a trabalhar tão depressa quanto possível. é mais do que justificável que certas tramitações da fase pós-eleitoral sejam encaradas com a sensatez e a determinação que são exigidas pelo trabalho que portugal tem pela frente. a título de exemplo, é absolutamente compreensível que não tenha de se esperar pelos resultados oficiais para que o presidente da república possa indigitar, ainda que informalmente, o novo primeiro-ministro.

como se sabe, a versão de 17 de maio (a segunda) do acordo com a troika inclui prazos ainda mais exigentes. alguns dos compromissos assumidos para o final do mês de junho e, mesmo, para julho, para poderem ser satisfeitos, exigem a colaboração do governo ainda em funções. aliás, ninguém melhor do que este próprio governo para o saber, uma vez que foi quem assinou o acordo.

a campanha foi, também,excessivamente crispada, o que facilita pouco a colaboração que tem de existir, já a partir de segunda-feira, entre os diferentes partidos. sabe-se que há um vencedor provável segundo a generalidade das sondagens. mas todas elas dizem igualmente que não haverá maioria absoluta. ou seja: será também necessário que decorram conversações para que se possa formar um acordo de governo. são, pois, várias as frentes de trabalho em que os partidos chamados a responsabilidades governativas vão estar envolvidos.

é, assim, necessário que todos nós, portugueses, nos compenetremos de que as eleições acabam mesmo no domingo à noite. acabam as eleições e tudo o que elas geram sempre, de confrontação e disputa, que foi especialmente agravado pelas circunstâncias que o país atravessa. a fase que começará domingo à noite vai ser muitíssimo exigente. esperemos que, quer vencedores, quer vencidos, saibam estar à altura do que se exige de quem tem a obrigação de conhecer as tarefas que se vão seguir.

serenidade

a atitude e trato afável de passos coelho

esta semana de campanha, até ao momento em que escrevo estas linhas, confirmou o que se esperava. é difícil saber em que medida é que as expectativas de resultados e a atitude dos líderes se influenciam reciprocamente. falo disto a propósito de josé sócrates, que entrou na campanha já muito irritado e que mostrou quase sempre um semblante correspondente a essa disposição. nos debates, ainda fez um esforço para sorrir, mas percebia-se que era mesmo um esforço. nos discursos dos comícios já não o conseguiu esconder,aparecendo sempre com um tom agastado. ainda por cima, as televisões passavam sempre a parte dos seus ataques ao líder do psd, o que, logicamente, lhe carregava mais a expressão. quanto mais os dias foram passando e as sondagens foram piorando, mais josé sócrates se mostrou incomodado.

o que aconteceu no debate entre os líderes do psd e do ps ilustra bem a diferença que pretendo assinalar em relação a passos coelho. a sua atitude de serenidade e firmeza,conseguindo nunca se descontrolar, foi a que soube manter, no geral, ao longo da campanha e, principalmente, nestes dias mais recentes.

com efeito, mesmo nos dias dos empates técnicos ou em que o ps chegou a aparecer à frente, o presidente do psd manteve a mesma atitude, o mesmo relacionamento com as pessoas que se abeiravam dele, a mesma expressão nos discursos.

desde o princípio da campanha – e sabe-o quem faz o favor de ouvir as minhas intervenções na tvi, no jornal das 8 e na prova dos nove – que sublinho, como traço relevante da atitude de passos coelho, a sua cordialidade. acredito que algumas pessoas possam ter considerado que eu estava a ser pouco generoso e a destacar um atributo de menor relevo em termos políticos. puro engano (na minha opinião, naturalmente)!

a cordialidade e o trato afável do presidente do psd marcaram um profundo contraste com a atitude e a personalidade de josé sócrates, não só na campanha, mas ao longo de todo o seu tempo de governação. a atitude é, de facto, muito importante. por isso mesmo, julgo que paulo portas ‘amealhou’ mais na primeira metade da campanha, na qual conseguiu mostrar um modo de intervir mais sereno; que jerónimo de sousa mantém os seus apoiantes pelas simpatia e garra que lhe são reconhecidas; e que francisco louçã, mais ríspido e mais rijo, teve dificuldade em romper os estragos causados pelo erro de ter recusado reunir-se com a troika.

responsabilidade

é preciso respeitar a verdade

portugal precisa de um primeiro-ministro que se preocupe em falar sempre a verdade. até pela enorme frustração de que acima falei, os portugueses exigem e merecem não voltar a ser enganados. haja o que houver, essa relação de confiança é fundamental para que portugal possa trilhar o caminho da recuperação.

sou defensor do que acontece na generalidade das democracias, em que as pessoas conhecem o posicionamento ideológico da linha editorial de cada órgão de comunicação. considero, pois, absolutamente natural que as pessoas saibam em quem votam mesmo os que escrevem na imprensa. pela minha parte, ainda por cima não sendo jornalista, mais natural é que confirme, publicamente, num momento de tanta responsabilidade nacional, aquela que é a minha opção e o meu voto no próximo dia 5 de junho.

sou militante do ppd/psd mas não é só por isso que vou votar no partido liderado por passos coelho. vou votar porque pertenço àqueles que entendem que josé sócrates e o seu governo têm que sair. mas vou fazê-lo, também, pela positiva, porque reconheço que passos coelho fez tudo o que estava ao seu alcance a preparar-se para exercer as funções a que se candidata. erros? todos os líderes partidários os cometeram. e não só os líderes! mas, mesmo nos momentos mais difíceis, vi o presidente do psd respeitar a verdade e não se refugiar em falsidades. compreenderão que este ponto seja sublinhado, muito sublinhado, na hora que portugal vive.

seriedade e capacidade são as razões fundamentais para a escolha de um primeiro-ministro. também por isso, eu voto psd, cheio de esperança em portugal.