Os homens nunca estiveram tão sós

Adaptar uma peça ao grande ecrã é prática comum. Algumas ficaram mesmo famosas mundialmente devido a essa adaptação ao cinema. É o caso de Um Eléctrico Chamado Desejo, de Tennessee Williams (filmado por Elia Kazan), ou do contemporâneo Closer, de Patrick Marber (filmado por Mike Nichols). Desta feita, o dramaturgo e encenador português André Murraças…

três homens sós é a peça que se estreia amanhã na culturgest. nela, andré murraças revisita três filmes de paul schrader: american gigolo, perigo incerto e o acompanhante. contando as mesmas histórias – ou a mesma história _– numa outra perspectiva, numa outra linguagem e noutro tempo, murraças rescreveu os textos, debruçando-se sobre o tema original, a solidão masculina, explorando o isolamento, a prostituição e o envelhecimento dos homens.

«esta é uma trilogia que fala de homens sós, que procuram o amor, e o encontram. mas que, por alguma razão, têm que passar por uma série de penitências até atingirem a salvação e conseguirem efectivar esse amor», explica murraças ao sol.

os três argumentos de paul schrader, conta o encenador, inspiraram-se numa mesma história: o carteirista, de robert bresson. «há um homem que comete uma série de crimes. e que conhece uma mulher, que se apaixona por ele, e que o salva, ilibando-o. schrader copiou-a, assumidamente, nos três filmes que fez, que contam sempre a mesma coisa, mas passada em épocas e cidades diferentes».

o encenador, que em film noir se tinha debruçado sobre as mulheres, quis agora fazer uma peça sobre homens. daí ter escolhido este cineasta. «paul schrader filma muito bem a solidão no masculino, associada a profissões nocturnas. o que tem um lado muito teatral, pois dá uma grande profundidade às personagens, que são muito fortes e complexas. são heróis e anti-heróis, românticos e criminosos. conseguem ser uma série de extremos. precisamos dessas vidas em palco».

para o encenador, o grande desafio enfrentado nesta adaptação foi condensar as várias horas de filme em apenas uma hora e meia de palco. o que implicou reduzir as narrativas ao essencial.

além de assinar a dramaturgia e a encenação, murraças é também responsável pela cenografia e figurinos. o elenco é composto por suzana borges, anabela brígida, vítor d’andrade e andré patricío. e a peça fica em cena até 8 de junho.

rita.s.freire@sol.pt