o agravamento da crise económica gerou uma instabilidade social que, nas últimas duas semanas, tem enchido as ruas helénicas de protestos e greves, como a verificada esta quinta-feira, que parou os serviços públicos e privados do país.
e como foi atingido este ponto na crise da dívida grega? a começar, pela ineficácia – ou incumprimento -, das medidas acordadas com a ‘troika’ (fmi, bce e ue) para serem aplicadas pelo governo grego. as primeiras medidas de austeridade de cariz financeiro estrangularam a procura nos mercados, avança o the guardian e, no primeiro trimestre de 2011, a dívida cresceu 0,2 por cento.
fotogaleria: protestos sociais juntam-se à crise económica na grécia.
a par deste valor, foi verificado, segundo o mesmo diário britânico, que a economia grega estará agora a contrair-se a um ritmo de 5,5 por cento ao ano, ao invés dos 4,8 por cento inicialmente estimados pelos mercados internacionais.
este panorama suscitou críticas da comunidade europeia. o ministro das finanças alemão, wolfgang schaeuble, foi das primeiras vozes a reagir com tom preocupante: «enfrentamos um risco real da primeira desordem [económica] na zona euro», avisou, citado pelo daily telegraph, ao remeter para um segundo pacote de ajuda a única maneira de fazer com que a grécia sobreviva até, pelo menos, 2014.
uma grécia desacreditada na europa
os credores internacionais da dívida grega têm manifestado críticas frequentes dirigidas ao executivo grego liderado por george pandreou, primeiro-ministro que tem sido criticado pela maneira como têm sido implementadas as reformas estruturais no país.
o estancamento da grécia num estado de recessão faz com que, na iminência de novo pedido de resgate, a ‘troika’ e várias nações europeias desconfiem da capacidade do país em aplicar eficazmente as medidas e reformas às quais se comprometeu aquando do primeiro acordo com a ‘troika’. o pacote de ajuda inaugural, assinado em junho de 2010, estebeleceu a transferência de 110 mil milhões de euros no pacote de ajuda externa.
o cenário não parece favorecer a grécia: «após um forte início no verão de 2010, a implementação das reformas estagnou nos últimos quatro meses». a frase constou, escreve a associated press, no relatório que a ‘troika’ terá escrito e enviado às nações da zona euro, na quarta-feira, no âmbito da avaliação do actual estado de ‘combate’ à dívida e crise grega.
perante a possibilidade de novo pedido de ajuda, o governo grego encontra-se neste momento reunido no parlamento com vista à aprovação de novas medidas de austeridade que possam dar novo impulso à economia do país. os novos planos deverão ir a votos no inicio de julho.
pressão interna asfixia governo
mas as incessantes tentativas do executivo grego em relançar a sua economia e reconquistar a credibilidade junto dos seus parceiros europeus (e conterrâneos) enfrentam agora, cada vez mais, uma oposição interna.
são milhares as pessoas que, nas últimas duas semanas, têm enchido as ruas de atenas em protesto contra as medidas de cortes salariais, de pensões, e de aumento do iva e dos impostos.
à greve geral que hoje paralisou o país precedeu, no domingo, uma manifestação que reuniu mais de 50 mil pessoas no centro de atenas, conta a bbc, junto à entrada do parlamento grego.
e a população helénica promete nova investida, com uma greve geral do país já convocada para 15 de junho. além dos valores adversos que suportam a dívida e crise económica do país, os protestos do povo grego são motivados pelas taxas sociais que pioram, ainda mais, a crise. exemplo disso é a taxa de 42,5 por cento de desemprego que atinge os jovens dos 15 aos 24 anos.
a crise económica, financeira e social que assola o país poderá recolocar a grécia como protagonista de outra cena inédita no espaço europeu: um segundo pedido de ajuda externa. wolfgang schaeuble já estimou um valor de 90 mil milhões de euros para o pacote, versão ii, de ajuda externa, mas será o tempo a ditar se o ‘palpite’ do ministro alemão se confirma, ou não.
a conjuntura actual obriga portugal a olhar com atenção para o caso grego. pelas palavras da ministra das finanças francesa – e provável futura presidente do fmi -, «a recuperação económica portuguesa vai ser mais rápida do que na grécia».
às contas dos 78 mil milhões de euros que o país vai receber, junta-se a esperança de mais 10 milhões de portugueses para que o país consiga evitar uma situação semelhante à da grécia.