Rui Sinel de Cordes: Sem limites

Em Preto no Branco e Gente da Minha Terra, na SIC Radical, o humorista Rui Sinel de Cordes não poupou ninguém: de paraplégicos a doentes de cancro. Para ele o humor não tem tabus.

a sua grande estreia televisiva gozou com paraplégicos. a erc soma queixas em relação a si e até já aconselhou a sic radical a deixar de exibir os seus programas. rui unas disse dele que era o mais hardcore dos humoristas portugueses. rui sinel de cordes aceita o título, mas ressalva: «o meu objectivo não é ofender, mas fazer rir, é nisso que penso quando escrevo uma piada».

não vê limites para o humor. nem no cancro, doença que a mãe já teve de enfrentar. apenas não se sente especialmente motivado para brincar com a terceira idade por considerar já ser uma fase triste da vida. mas nem assim se coibiu de, após a morte da avó, ter incluído no espectáculo que fazia à data cerca de dez minutos de piadas sobre o funeral. «não é isto que diz se estou a sofrer mais ou menos. sei que ela iria achar piada. a minha outra avó foi ver o espectáculo e perguntou–me logo se, quando ela morresse, ia fazer o mesmo».

foi aliás com esta avó que rui sinel descobriu a veia sádica do seu humor. ou isso ou pelo facto de «o trisavô ter sido ministro das finanças de salazar», diz. costumava ir de férias para a quinta da família no douro e recorda que a avó, quando fazia arroz de cabidela, ia matar as galinhas da forma tradicional, cortando-lhes a cabeça. «e depois soltava-as para elas andarem a correr meias tontas e ríamo-nos à gargalhada com isso. a verdade é que desde pequeno que me lembro de gozar com os deficientes. e de levar na cabeça por o fazer, claro».

nasceu a 13 de fevereiro de 1980 e apresenta-se como oriundo de uma «família tradicional portuguesa». ou seja, os pais são divorciados. «era óptimo, recebia sempre presentes a dobrar», brinca. mais a sério, o humorista explica que tudo aconteceu quando tinha três anos e nem sequer se recorda de ver os pais juntos. prefere destacar como foi, até cerca dos oito anos, a única criança da família. «nunca quis um irmão, sempre fui egoísta. tal como todos os humoristas, sempre quis ser o centro das atenções».

rui_sinel de cordes não queria ser humorista. pensava antes ser jornalista e por isso licenciou-se em ciências da comunicação. mas foi na disciplina de escrita criativa que despertou para a escrita humorística. andou pelo teatro amador, fundou o site escrita criativa e o grupo de humoristas alcómicos anónimos e escreveu para outros humoristas nas produções fictícias, algo que sentia como uma «castração». aos 22 anos subiu pela primeira vez a um palco, para um número de stand up comedy, numa pequena cerimónia de entrega de prémios. «os nervos eram tantos que bebi meia garrafa de uísque e estava completamente bêbado». desde então que vive do humor e, se um dia tal não for possível, repesca um sonho antigo e muda-se para londres.

 

ameaças de morte
desde que descobriu a stand up comedy que diz que, se tivesse oportunidade, só faria este género. quando tinha em cena o polémico espectáculo black label foi bater à porta da televisão. percebeu que precisava da notoriedade da caixinha mágica para ter mais espectáculos de comédia. foi justamente pedro boucherie, director da sic radical, que lhe abriu a porta, em 2008. «trocámos uns e-mails e apresentei-lhe o episódio piloto do preto no branco. ele gostou e o episódio piloto tornou-se o número 1, logo sobre os paraplégicos».

seguiu-se o gente da minha terra, onde viajou, juntamente com o câmara nuno alberto, amigo desde os alcómicos, por portugal e pela europa ‘gozando’ com personalidades e monumentos, como o museu de anne frank, em amesterdão.

a sic radical não lhe impõe limites, mas juntamente com pedro boucherie concluiu que deve ter determinados cuidados. «não quero passar a minha vida a caminho do tribunal». na abordagem directa do público diz apenas receber comentários positivos, mas no universo virtual o caso muda. «já recebi imensas ameaças de morte, dizem que sabem onde eu moro e que é melhor ter cuidado».

rui sinel de cordes acredita que o humor ofensivo se tem destacado internacionalmente, mas é ainda tímido em portugal. as pessoas que o fazem rir em portugal são herman josé, ricardo araújo pereira e salvador martinha. mas só pediria autógrafos a al pacino, de quem diz ser filho, e a maradona. ao contrário da maioria dos humoristas, a política não o inspira. diz até que é monárquico. «nunca sequer votei». prefere estar atento ao que o rodeia: «gosto muito do meu país e por isso sou tão crítico».

um dos momentos mais polémicos diz respeito ao episódio de gente da minha terra gravado nos açores em que insinuou que na terceira havia muitos homossexuais. «pensam que sou homofóbico, mas muitas vezes digo coisas em que não acredito, mas faço piadas sobre isso. nunca senti que tinha ido longe de mais». nem mesmo quando, no programa da rtp, 5 para a meia-noite, falou do musgo que eunice muñoz teria entre as pernas. «admito que foi uma piada de mau gosto, mas o mundo está cheio delas. o jimmy carr tem um espectáculo só com estas piadas». e rui não quer «deixar de dizer uma piada do caraças só porque essa pessoa é amiga».

raquel.carrilho@sol.pt