Grécia em caos aguarda por uma Europa indecisa

À emergência que rodeia o estado da sua economia, a Grécia juntou nas últimas semanas uma crise político-social que tem posto em alerta a restante comunidade europeia. O segundo resgate financeiro prometido pela UE apenas deverá ser concretizado em Julho, apesar dos incessantes pedidos do governo helénico para que fosse já este mês.

mas às manifestações de auxílio por parte dos ministros da finanças europeus tem-se vindo a juntar opiniões de desconfiança face à capacidade da grécia em honrar os seus compromissos e fazer cumprir as medidas de austeridade que visam a redução do seu défice.

esta desconfiança tem sido evidenciada em maior relevo pela alemanha, pelo banco central europeu (bce) e pelo fundo monetário internacional (fmi), que têm atrasado um acordo total para a concretização de um segundo resgate, conta o diário el país.

antes de um eventual segundo resgate poderá estar, porém, a transferência de uma quinta tranche do pacote de ajuda acordado há 18 meses atrás. contudo, esta fatia de ajuda ascenderia agora a 18 mil milhões de euros, ao invés dos 12 mil milhões inicialmente acordados.

o britânico the guardian relata que a alemanha, pela voz da sua primeira-ministra, angela merkel, tem encetado conversas com o bce acerca do papel a desempenhar pelos credores privados da grécia, ao defender que estes deveriam ser forçados a sofrer perdas nos seus empréstimos, sob o risco de as consequências tombarem, mais tarde, unicamente para o lado dos países da zona euro.

entretanto, e a par da sua grave situação económica, a grécia depara-se com uma crise política reforçada pela crescente contestação social que tem enchido as ruas da capital, atenas, visando principalmente as pesadas medidas de austeridade que terão que ser implementadas pelo governo, seja ele qual for.

primeiro-ministro grego anuncia remodelação governamental.

em paralelo, o fmi deixou claro que não pagará a sua fatia desta quinta parte da tranche, que rondará os 3 mil milhões de euros, a não ser que do lado grego sejam apresentadas garantias.

a recusa prende-se aos mesmos motivos: a exigência, por uma lado, de que a grécia apresente garantias de execução de medidas de austeridade e, por outro, de que os restantes parceiros na ajuda externa – ue e bce -, assegurem o financiamento da dívida pelo menos nos próximos 12 meses.

mas a alemanha não quer que a ue disponibilize mais dinheiro para ajudar a grécia (posição secundada, entre outros, pela holanda e finlândia), e são estes os impasses que, aponta a associated press, vão marcar a agenda da próxima reunião do eurogrupo, a 19 e 20 de junho.

a frança, através do seu presidente nicolas sárkozy, tentará alcançar um acordo que viabilize o apoio da alemanha num segundo resgate financeiro à grécia. «é necessário esquecer as divergências nacionais e trabalhar para uma união comum na europa», apelou o líder gaulês.

a urgência de um consenso europeu

o comissário europeu para os assuntos económicos, oli rehn, apelou aos ministros da economia do eurogrupo para que na reunião de 19 e 20 de junho aprovem a transferência, pelo menos, da quinta tranche de ajuda, e que «superem as diferenças existentes e cheguem a um acordo responsável para esta conjuntura crítica».

para rehn, um eventual falhanço de um acordo mútuo para um segundo resgate na grécia poderá resultar na entrada do país na bancarrota, situação que é, aliás, reiterada pelo vice-presidente do bce, o português vítor constâncio.

citado pelo the guardian, constâncio defende que «a [bancarrota] da grécia poderá ter um efeito contagiante» para as restantes nações da zona euro.

portugal já seguiu as primeiras pisadas dos helénicos, com o acordo para os 78 mil milhões de euros que irá receber da ue e do fmi, esperando-se agora que a situação portuguesa não se agrave para um contexto semelhante ao que a grécia atravessa.

online@sol.pt