A mão-de-obra que veio do Oriente para a agricultura do Alentejo

Descritos como disponíveis, experientes e competentes, os tailandeses são as mais recentes ‘estrelas’ dos campos agrícolas alentejanos e aproveitam a preferência para realizar sonhos no país natal.

ema oliveira, directora de recursos humanos da camposol ii, empresa do sector agrícola instalada na herdade dos nascedios, em vila nova de milfontes, concelho de odemira, diz ser «difícil» encontrar portugueses que queiram trabalhar no campo, pois estes «preferem trabalhar os meses de verão no turismo», além das dificuldades colocadas por as pessoas viverem dispersas em relação à empresa, o que obriga a uma grande organização para transportá-las.

implantada no litoral alentejano desde 1993, devido ao clima, ao tipo de solo e à disponibilidade de água, a empresa conheceu, há cerca de 10 anos, um grande crescimento, tendo começado a sentir dificuldade em conseguir mão-de-obra nacional.

nessa altura, recorreram à contratação de trabalhadores da europa de leste, sendo que quatro desses homens permanecem na empresa praticamente desde então, como é o caso de igor gorbunov, 41 anos, russo, engenheiro aeronáutico, que defende que, com dois filhos para criar, «todos os trabalhos são iguais».

em dezembro do ano passado, a empresa contratou 15 tailandeses, por ter tido boas referências destes trabalhadores por parte de empresas da região.

de acordo com ema oliveira, as expectativas confirmaram-se, pois os tailandeses são «disponíveis e têm muita força de vontade para trabalhar», apresentando «vantagens» em relação aos trabalhadores de leste, como a «humildade».

além disso, «estão habituados a trabalho de campo», acrescentando que, por vezes, algumas das pessoas que contrata «não têm noção» do que é trabalhar na agricultura, aparecendo «de havaianas» ou não se lembrando de levar água e lanche, por exemplo.

lénia matias, chefe da equipa onde os tailandeses estão integrados, confirma que estes são «pessoas calmas», que entendem o que lhes é explicado «logo à primeira», embora tenha de ser através de linguagem gestual.

a dificuldade de comunicação é sentida quando se tenta fazer algumas perguntas a phongthep chamraksa, 30 anos, mas recorrendo a gestos e palavras escritas na terra fértil, enquanto ata mais um molho de salsa de raiz acabada de colher, o homem explica que está há cerca de um ano em portugal e que está a gostar.

produzindo 150 hectares de relva e 400 hectares de hortícolas, como espinafres, rabanetes, nabos, cenouras, abóbora e salsa de raiz, essencialmente para exportação, a camposol paga aos seus trabalhadores agrícolas 500 euros mensais e subsídio de alimentação. com as horas extraordinárias, podem ganhar até 900 euros por mês, além de um prémio de produtividade.

é também a empresa que disponibiliza o transporte, o alojamento e ajuda os mais inexperientes nas idas ao supermercado, ao correio e ao banco.

as burocracias relacionadas com a inspecção do trabalho e a renovação de vistos ficam a cargo da empresa de recrutamento com a qual trabalham.

rute silva, directora de recursos humanos da recém-criada filial da empresa de recrutamento tailandesa may day placement co. ltd, explica que uma das grandes vantagens dos trabalhadores tailandeses em relação aos portugueses ou outros europeus tem que ver com o «gosto» pela agricultura.

têm também uma produtividade 20 a 30 por cento acima dos outros trabalhadores, por manterem o mesmo ritmo durante todo o dia, mas ficam em portugal apenas o tempo suficiente para conseguirem «realizar os seus sonhos» na tailândia, como «comprar casa».