costuma andar de comboio?
sempre que vou para lisboa. mas também admito que não sou um às do volante (risos).
tem cada vez mais ‘companheiros’ de viagem. o número de passageiros subiu 3% no primeiro trimestre. há uma alteração nas classes sociais dos utentes?
não, agora não. no início (em 2000) havia uma grande predominância da classe média-alta, o que até era estranho. mas, à medida que as pessoas se aperceberam que a diferença de preços face a outros transportes não era assim tão grande, as classes média e média-baixa começaram a utilizar mais o comboio. ainda assim, continuamos a ter uma grande predominância das classes alta e média-alta.
então, a crise económica não tem tido assim tanto impacto…
eu diria que tem alguma importância em termos da transferência de passageiros do transporte individual para o colectivo, mas não é a causa essencial. o stresse para quem usava o carro, a flexibilidade para quem utilizava o barco e a tranquilidade do percurso são os três factores fundamentais.
onde ganharam a maior parte dos passageiros?
inicialmente, a maior transferência foi do barco. agora são os utilizadores do transporte individual que passam para o comboio. também temos muitos estudantes que optam imediatamente pelo transporte colectivo.
tem sentido aumento dos custos, nomeadamente da energia?
sim, claramente.
quanto subiram?
17% em relação ao ano passado. o custo das taxas da energia subiu muito, em alguns casos mais de 100%.
como os está a suportar?
basicamente, por via do aumento do número de passageiros. estamos também a implementar medidas que visam a redução do consumo de energia, que vão desde a poupança com as composições até à mudança de lâmpadas nas estações.
será necessário aumentar os preços no final do ano, suponho.
sim. está previsto, no âmbito do contrato de concessão, aumentar os preços no dia 1 de janeiro, e assim o faremos.
pode subir as tarifas um ponto percentual acima da inflação. vai accionar essa cláusula?
sim, sem dúvida. é o que está previsto e vamos implementá-la. e, se existir um aumento maior dos outros operadores, iremos falar com o regulador para analisarmos essa situação.
não teme um forte impacto na procura?
este ano aumentámos menos do que qualquer outro operador, 3,2%. os aumentos não têm grande impacto para os nossos utilizadores, pois cerca de 80% utilizam o passe. não tenho a percepção de termos perdido passageiros por isso…
do ponto de vista operacional, há já superavit?
sim, no resultado operacional sim, mas os encargos financeiros são muito pesados.
agora não contará com as indemnizações compensatórias…
conseguiremos equilibrar até 2016, mas não este ano. dai também a necessidade do aumento dos preços superior à inflação. o aumento da procura, o aumento dos proveitos e ainda os cortes na despesa são os vectores que irão assegurar a rentabilidade.
este ano, então, não terá lucro.
não, este ano não.
e nos próximos?
em 2013 devemos atingir o break even. antes de 2016, teremos o resultado garantido e, entre 2016 e 2019, repartiremos o resultado líquido com o estado, cerca de três milhões de euros no total.
seria interessante a privatização da transtejo/soflusa?
poderia ser, parece aliciante.
e a concessão das linhas suburbanas da cp?
estamos claramente interessados, principalmente nas linhas de sintra e da azambuja.
e a linha de cascais?
acho todas as linhas interessantes. têm muitas pessoas! qualquer uma me parece bastante interessante para fazer a operação.
conseguirá contratar mais trabalhadores este ano?
vamos contratar mais operadores comerciais. não em número substancial, mas vamos passar de 190 para 194 colaboradores.
uma das questões mais quentes em 2010 foi a renegociação do contrato de concessão, que resultou numa queixa da francesa transdev…
é uma acção que está a correr em tribunal, na qual a transdev invoca que não deveria ter havido prorrogação do contrato, quando o que estava previsto era haver…
mas era para ser feita em 2009.
havia de facto uma data, mas nada apontava que, numa outra fase, o contrato não pudesse ser prorrogado. foram feitas as negociações quando o estado assim o entendeu.
não foi tarde?
não, porque não trouxe perturbação nenhuma a ninguém. o estado tinha de definir o que ia acontecer à terceira travessia do tejo. foi-nos garantido que até 2016 nada seria feito. daí até 2019, se alguma coisa for decidida nesse sentido, o estado não se responsabiliza.
a transdev alega falta de abertura para a concorrência…
a transdev teve condições para concorrer em 1999. não pode concorrer apenas quando lhe dá jeito. se queria, deveria ter aparecido num momento oportuno.