como se os telejornais fossem tão mais competentes quanto mais notícias conseguissem produzir em simultâneo, como se cada programa fosse tão mais visto quanto mais se fizesse notar nos programas alheios.
escolheu a sic, no passado fim-de-semana, ocupar duas horas da sua programação nocturna (às 23h45) com o belíssimo filme josé e pilar, de miguel gonçalves mendes, retrato aturado, comovente e profundo da relação a dois entre josé saramago e pilar del río. por que o fez partindo em dois dias uma obra de duas horas, imagina-se que por ter achado que seria um risco desmedido exibir na sua forma original tão ‘impenetrável’ (ironia) filme. mesmo assim, não resistiu a sic a pontuar os dois ‘episódios’, com a discrição que conseguiu, com indispensáveis rodapés que anunciavam a chegada do momento «mais esperado por todos, depois das ameaças, das zangas…», claro, a gala de pesagem de peso pesado. ou que «diana quer impedir a todo o custo o casamento de joão e inês», problema da telenovela laços de sangue que ocuparia a cabeça de todos quantos assistiam a josé e pilar.
mas noutros momentos, evidentemente, procuram-se milagrosas soluções nas quais mergulhar a vista e fazer por ignorar o que ocupa o ecrã. como no directo do primeiro jornal, na mesma sic, em que um repórter achou que nada havia de mais apropriado do que questionar teresa caeiro sobre a escolha daquela cor (salmão) para a roupa com que marcou presença na tomada de posse do novo governo. felizmente, a deputada recusou-se a alimentar o malfadado rodapé.