significativo
o novo primeiro-ministro começou o seu mandato com o pé direito
gostei do discurso de posse de passos coelho. positivo e mobilizador, puxando pelo amor-próprio, exortando à defesa da dignidade nacional. falou de tormentas mas mostrou esperança e, até, entusiasmo. repetiu que ninguém pode ser deixado para trás. e que não vamos falhar.
passando à segunda razão, começo por fazer a nota de que sei muito bem que repito alguns temas nestes artigos. estou certo de que compreendem: são as causas pelas quais entendo valer a pena lutar. por isso, insisto.
«continuam também os governadores civis. o psd agora fala nisso outra vez… sabem quando propus a extinção do cargo? em 1980. ministros da república? representantes? também propus a extinção na mesma data.
outro ‘esquecimento’: as autoridades metropolitanas de transportes. o público falou delas, esta semana… que sentido faz continuarem sem funcionar? interessa? sabe-se lá.
mas quantos mais notarão o que eu noto?»
escrevi estas palavras, neste espaço, em 30 de julho, há quase um ano. mas, como está lá dito, desde 1980 que defendo essa medida.
o que interessa agora é quem fez, quem vai fazer. passos coelho teve essa coragem. é muito bom sinal. durão barroso, em 2002, foi para eleições com essa medida. eu, na altura presidente da câmara de lisboa, ‘não o larguei’ com esse assunto. um dia, em s. bento, deu–me a notícia de que era impossível «convencer o partido».
já quando exerci o cargo de presidente da câmara da figueira da foz, sempre que possível, segui firmemente a orientação de não ir a cerimónias em que participasse o governador civil. nada contra as pessoas, como é evidente. mas tudo contra um cargo próprio de outros tempos.
falam na protecção civil? nos incêndios? mas a protecção civil, em cada concelho, não é responsabilidade do respectivo presidente da câmara? não compliquem, não inventem, não protestem contra uma medida elementar.
passos coelho decidiu. e não lhe posso fazer melhor elogio do que este: decidiu ‘à sá carneiro’. tem de se fazer uma revisão constitucional para desaparecer, de vez, o cargo. pois tem! mas, até lá, está dado o pontapé de saída para a reorganização administrativa deste portugal centralizado, pomposo e labiríntico.
impressivo
um momento de alta política
sobre a escolha de assunção esteves, só posso dizer que foi um momento de alta política.
depois do penoso dia da véspera, depois da resolução do erro que foi aquele desafio a fernando nobre, o presidente do psd tomou uma decisão inesperada. pelo que vou assistindo, quando nobre foi mesmo rejeitado e desistiu, na segunda-feira, não acreditei que a escolha recaísse em mota amaral ou em guilherme silva. estava no meu escritório e disse que passos coelho iria para uma solução diferente. eu tinha escrito no público, no dia seguinte ao anúncio da composição do governo, um pequeno texto em que referi dois elementos, ligados entre si: um, o facto de ser surpreendente; e o outro, o de se tratar de escolhas, de opções com uma marca muito pessoal (aliás, também as de paulo portas).
pensei, pois, que passos coelho iria, de novo, tentar surpreender. mas, confesso que nem me passou pela cabeça o nome escolhido. é uma escolha muito, muito interessante. com inegável significado político. ao fim e ao cabo, alguém com muito valor, que estava ‘na sombra’ e que soube aguardar. tem muitas qualidades e abre, ou antes, pode abrir um novo ciclo na política portuguesa.
ao assistir aos impressivos momentos da sua eleição, recordei os tempos em que integrava a lista que eu encabecei para a assembleia de representantes da faculdade de direito de lisboa, em combates associativos bem duros. em que assunção esteves tinha a mesma imagem e a mesma atitude de gaiata bem disposta que mostrou no dia da sua eleição. é uma pessoa muito especial, livre, inteligente, culta.
há cerca de dois meses, encontrei-a, por acaso, na sua simplicidade, a usufruir da beleza de um fim de tarde do algarve mais bonito. sempre igual a si própria. tenho a certeza de que não vai mudar.
negativo
é bonito ver um ex-1.º-ministro sentado na ar
josé sócrates renunciou ao mandato de deputado. é pena! como procurei dar o exemplo, quem disputa eleições e as perde, deve assumir o seu lugar no parlamento e defender o seu mandato, bem como as posições que entenda assumir em cada nova circunstância.
passamos a vida nisto. o contraditório é frouxo e nada se esclarece. cada novo ciclo parece sempre ser o início dos tempos, o começo do mundo.
mário soares, quando perdeu as eleições em 1980, também foi para o parlamento. tinha sido primeiro-ministro em mais de metade da legislatura anterior – 1976-79 – mas não chefiava o governo há mais de um ano quando foi o acto eleitoral em 2 de dezembro de 1979.
almeida santos disputou as eleições com cavaco silva em 1985. foi ele o candidato do ps a primeiro-ministro. teve uma derrota pesada, por causa do prd e assumiu o seu lugar na assembleia. mas o primeiro-ministro tinha sido soares, que, entretanto, se afastara para concorrer à presidência da república.
gostava, um dia, de ver, em portugal, um primeiro-ministro ganhar eleições depois de ter perdido as anteriores e de ter ido lutar para o parlamento. não falo de mim, como é óbvio. falo de qualquer um. mesmo assim, pela minha parte, segui esse percurso que defendo: fui líder parlamentar e, logo depois, candidatei-me às directas de 2008 para ir à ‘desforra eleitoral’ com josé sócrates. as tais directas que dividiram o psd em três partes quase iguais…
há mais exemplos e, hoje em dia, não é popular falar nele… mas sabem quem perdeu com romano prodi, em 2005, foi para a oposição e voltou a ganhar? exactamente: sílvio berlusconi.
é bom saber perder, em democracia. atente-se em mariano rajoy no pp espanhol. é um caso diferente, não estou a referir a mesma situação. mas já perdeu várias vezes, e não desistiu.
não estou a dizer que josé sócrates desistiu. disputou as eleições, ao contrário de várias pessoas, em vários países, que só as disputaram quando estavam certos de as ganhar. estou só a dizer que é bonito ver um ex-primeiro-ministro, sentado no parlamento, nas fileiras da oposição. custa? custa muito. mas, em minha opinião, é assim que deve ser. em democracia, o que conta não é só o governo, nem só o poder central.