Jornalismo é hoje feito por mais profissionais, mais mulheres e com mais qualificações académicas

O jornalismo é hoje feito por um maior número de profissionais com carteira, por cada vez mais mulheres, sobretudo nas camadas mais jovens, e por pessoas com mais qualificações académicas, indica o estudo Ser jornalista em Portugal – perfis sociológicos.

a longa investigação realizada por uma equipa do centro de investigação e estudos de sociologia (cies) do instituto universitário de lisboa, que será lançada em livro na quinta-feira, traçou «diversos perfis» do jornalista português, tendo por base 47 entrevistas realizadas em 2006, 2007 e 2008.

em entrevista à agência lusa, josé rebelo, professor universitário que coordenou a investigação, realçou que «não é pretensão [do estudo] cobrir todos os perfis possíveis», mas estão lá «os que mais frequentemente se encontram na profissão», desde «o estagiário que vai repetindo estágios e que nunca consegue integrar a profissão», até ao «jovem jornalista que não encontra o que procura e então desiste e vai para profissões conexas, como assessorias ou empresas de comunicação», passando pelo jornalista desempregado e pelo «jornalista que rapidamente atinge lugares de topo no órgão de comunicação social em que trabalha».

ser jornalista em portugal – perfis sociológicos resulta de um trabalho de investigação de cerca de cinco anos, realizada sob a égide da fundação para a ciência e a tecnologia e de um protocolo com o sindicato de jornalistas.

para além das entrevistas, «autênticas histórias de vida», o estudo compara dados dos últimos 20 anos sobre a profissão. e podem tirar-se três «conclusões imediatas», considera o também ex-jornalista.

em primeiro lugar, destaca josé rebelo, «um aumento extraordinário do número de jornalistas portadores de carteira profissional», sobretudo na década de 1980 (número que, porém, está a diminuir desde 2000).

o aumento deu-se com a adesão de portugal à cee e consequentes «alterações económicas e financeiras profundas» – privatizações, aparecimento de «numerosas publicações temáticas», legalização de «centenas de rádios locais», aparecimento de dois operadores privados de televisão, enumera.

a segunda alteração é a «subida muito acentuada das qualificações académicas da profissão, que também se começou a manifestar na década de 80» e que «corresponde à multiplicação de cursos em ciências da comunicação, jornalismo, comunicação social». estes cursos proliferam com as universidades privadas, que «tendem, o que é natural, a abrir cursos com clientela assegurada e baixos custos, que não impliquem grandes investimentos», justifica.

isso associado ao lado de «grande visibilidade social» do jornalismo leva a que os cursos de comunicação social continuem “a ter muita procura, apesar da crise que existe neste mercado”.

a terceira característica é a «clara feminização da profissão». se, «em termos globais, ainda há mais homens do que mulheres», nas faixas etárias dos 20 aos 25 e dos 25 aos 30 anos «o número de mulheres já é muito superior», realça o professor. «o que faz supor, sem grande risco, que daqui a curto/médio prazo a percentagem de mulheres na profissão será claramente superior à percentagem de homens», estima.

isso não quer dizer que não haja «segregação de género» no jornalismo, alerta. «a feminização ainda não tem reflexos ao nível dos cargos de chefia», quer porque o jornalismo tem um dna «claramente machista», quer porque os cargos de chefia «com muita frequência são ocupados por pessoas mais velhas» e nessa faixa etária «a percentagem de homens é ainda muito superior à de mulheres», explica.

lusa/sol