revoltante
são necessárias outras agências de rating
a moody’s passou todos os limites e a reacção gerada, até ao momento em que escrevo este artigo, bem o demonstra. há muito tempo que ataco estas entidades que não são os mercados. os mercados devem ser respeitados quando funcionam com regras. esta gente, não.
qual a lógica do que foi anunciado? corte em quatro níveis, porquê? o que aconteceu em portugal, desde há meses, para justificar este anúncio? trata-se de uma incrível irresponsabilidade porque prejudica, com absoluta leviandade, o processo de recuperação de um país e da sua economia.
durão barroso veio esta semana dizer outra vez que é precisa uma agência de rating europeia. já tinha admitido isso há muitos meses. «durão barroso disse ontem, na esteira de palavras de ângela merkel, que a união europeia está a trabalhar num modelo próprio de notação das economias. finalmente uma atitude que dá um bom exemplo, depois do difícil acordo de ajuda à grécia.
sim, é preciso reagir, mas também agir. não só salvar, mas também caminhar para o dia seguinte – para ‘o depois’ da crise.
as batalhas não se ganham com generais medrosos ou incapazes na estratégia. no mundo, na europa, em portugal» (equinócios e solstícios de 7 de maio de 2010).
se bem me lembro, porém, barroso exprimiu dúvidas sobre a viabilidade desse caminho.
não estou com isto a afirmar que essas novas entidades devam ser de base pública. que sejam privadas! mas os dirigentes políticos europeus têm certamente meios mais do que suficientes para convencer entidades privadas a enveredarem por esse caminho.
uma coisa é certa: são precisas agências de rating europeias, asiáticas, australianas, africanas. e não podem – não podem mesmo – dar classificação a estados (repúblicas ou monarquias) e às decisões dos seus parlamentos ou governos. quem são essas pessoas? quem as mandatou? quem representam?
estou cansado de falar neste tema desde que as agências de rating começaram a causar estragos que hoje são conhecidos.
aqui neste espaço e em todo o lado onde tenho oportunidade de falar sobre o assunto.
um exemplo: «o verdadeiro símbolo da mistificação em que vivemos surge bem claro no inside job com o papel das agências de rating. também aqui se trata de verdades que não se assumem: as agências que existem já deviam, pura e simplesmente, ter fechado as portas. ou terem sido obrigadas a fazê-lo».
flagrante
a moody’s passou um atestado de incompetência à ue e ao fmi
já me submeti, com a equipa que liderava na cml, à avaliação de duas dessas entidades.
correu bastante bem, tendo obtido notação igual à da república.
mas, tendo sido considerado um pouco excessivo o receio que aquele exame suscitava na minha equipa das finanças, rapidamente se percebeu que os argumentos da então vereadora do pelouro, teresa xavier pintado maury, tinham fundamento.
era o sistema que estava montado, eram entidades que dispunham de um poder quase absoluto para a imagem de solvabilidade e credibilidade das entidades avaliadas. era, pois, essencial passar com distinção na prova a que o município se ia submeter.
só que, até aí, o sistema nunca tinha feito mal – ao contrário do que se verificou a partir de setembro de 2008. e, mais uma vez, recomendo o filme segredo da crise ou inside job.
mesmo que fossem todos catedráticos, os que trabalham nos desks dessas empresas não podiam nem deviam dispor do poder de classificar países.
de qualquer maneira, como já está bem claro, esta avaliação da moody’s é um atestado passado à própria união europeia e ao fundo monetário internacional.
diz a moody’s que não acredita que portugal consiga cumprir as suas obrigações, e não exclui que possa vir a precisar de um novo resgate financeiro. então está a pôr em causa o que a ue e o fmi consideraram adequado para essa finalidade. não tem pés nem cabeça! admito que, desta vez, «o feitiço se vire contra o feiticeiro».
a indignação generalizou-se e, se as reacções forem persistentes, talvez o caso mude de figura. estas agências devem ser colocadas, mesmo no plano judicial, perante as suas responsabilidades. se não for assim, isto nunca mais acaba.
marcante
uma notícia triste
que notícia tão triste! morreu uma senhora íntegra, corajosa, coerente.
quando as pessoas partem, só lembramos as suas qualidades. não esqueço que houve divergências graves entre mim e maria josé nogueira pinto. é passado, como em grande medida já era quando nos encontrávamos. ficaram marcas no nosso relacionamento? não o nego. mas não diminuíram o muito respeito que sempre tive pelas suas grandes qualidades.
já depois dessas desavenças, trabalhámos bem. maria josé nogueira pinto como provedora da santa casa da misericórdia de lisboa e eu como presidente da câmara municipal de lisboa.
quero aqui sublinhar hoje o seu amor à pátria, o seu profundíssimo sentido de família, o seu constante testemunho de fé. era uma mulher a quem ninguém ficava indiferente. é assim que vale a pena. e lamento muito que parta tão cedo.
vai fazer falta a portugal.