é uma canalhice, comparável à metáfora do pontapé sobre quem está a tentar erguer-se do chão. é, também, até ver, a demonstração de que aqueles que foram em boa parte responsáveis pelo crise financeira de 2008, que levou à crise das dívidas em que estamos, são impunes. pôr portugal num nível de risco semelhante ao do bangladesh, por exemplo – como fez a moody’s –, não revela incompetência. revela má fé, porque (como todo o respeito pelo país africano), as realidades não são comparáveis.
há meses, quando o rating foi revisto em baixa, o presidente da república apelou à calma, explicando que de nada servia protestar. o país, disse cavaco, deveria focar-se nas reformas e não nos protestos. e tinha razão: na altura, tudo indicava que o país estava sem rumo. mas, agora, o mesmo presidente – que sabe do que fala – manifestou-se indignado com a canalhice. o país está a entrar numa nova era, ao contrário da moody’s, que se mantém na era medieval, quando os senhores poderosos tudo podiam fazer sem consequências. os eua estão, potencialmente, a um mês de entrar em default. mas, com os states, as agências não se metem, pois sabem que quem se mete com os states, leva.
faz, portanto, sentido protestar. mais: faz sentido dizer basta. está na hora de a europa acordar e de, concertada, fazer o mesmo que o bes fez há tempos com a fitch: rasgar os contratos com as agências, que sem clientes não vivem. enquanto for impune, será esta gente a ‘mandar’ no mundo. e não há nada pior do que ser governado por tiranos.
ricardo.d.lopes@sol.pt