o sinal foi dado esta semana pela agência norte-americana moody´s que baixou a notação da irlanda em um nível para a categoria ‘lixo’, como já tinha feito com portugal na semana passada e com a grécia em 2010.
a segunda maior agência de rating mundial reconhece que, nove meses após o resgate, a irlanda está a aplicar o seu plano com «sucesso» e a superar as metas fiscais e de redução de despesa acordadas com a união europeia (ue) e fundo monetário internacional (fmi), ao mesmo tempo que mantém a competitividade da economia e o seu atractivo sistema fiscal. mas ainda assim, apesar de a irlanda ter sido, até agora, um ‘aluno exemplar’ no cumprimento das metas não evitou a descida do seu rating.
a moody´s e as restantes agências (standard&poor´s e fitch) salientam que mais importante do que o desempenho dos países é a resolução da crise na grécia e, sobretudo, a participação de privados em futuros resgates – algo que as agências dizem que, se acontecer, levará a cortes imediatos dos ratings. esta foi a justificação da moody´s para reduzir o rating de portugal na semana passada e da fitch para cortar quarta-feira o da grécia para um nível apenas acima da bancarrota. a justificação? «ausência de um novo e credível plano» da troika para a grécia, argumentou a fitch.
o caso irlandês poderá assim ser o destino de portugal dentro de meses. a promessa do primeiro-ministro passos coelho de ir mais além nas metas da troika não irá evitar novos cortes no rating se a europa não encontrar uma solução para a crise (ver texto ao lado).
o problema são as consequências: a redução das notações torna mais oneroso o financiamento do estado e das empresas, barra a entrada de investidores tradicionais de dívida pública – como fundos de pensões ou seguradoras – que não podem investir em países com rating abaixo de certo nível e torna mais difícil o regresso aos mercados, condição essencial para um país não necessitar de um novo pacote financeiro.
o poder das agências
a polémica sobre as acções das três grandes agências de rating tem estado ao rubro desde o corte a portugal, tendo subido de tom agora que a crise está a chegar a espanha e itália. a comissão europeia, por exemplo, diz que estas avaliações são «incompreensíveis».
para joão ferreira marques, director-geral da white star e ex-quadro da fitch, os recentes cortes nos ratings «não foram surpresa». as agências «já tinham sinalizado a sua intenção há meses e a sua metodologia é muito simples: qualquer alteração nas condições dos contratos é motivo para cortes (downgrades)».
o alargamento dos prazos para pagamento dos empréstimos ou participação de privados nos resgates são motivos para downgrades, independentemente de o país estar a cumprir as metas porque representam perdas para os investidores, diz ferreira marques. também josé poças esteves, presidente da saer, não acredita nas teorias de conspiração sobre as agências. o que existe, diz o economista, é uma metodologia de avaliação desenhada para mercados muito liberalizados como o anglo-saxónico que, quando aplicado a mercados como o europeu onde a presença do estado na economia é superior, fica desajustado e pode resultar em avaliações erróneas.
o grande poder das três agências de rating deriva da falta de alternativa aos ratings por partes dos investidores, diz pedro braga da cruz, director da companhia portuguesa de rating (cpr), a única agência de notação financeira portuguesa e a mais antiga da europa. «temos de viver com elas», adianta. o responsável acrescenta que o grande problema com as três grandes agências é «a falta de concorrência e a falta de capacidade de análise local».
para ferreira marques, as soluções apresentadas pelos líderes europeus estão a ser vistos pelas agências como «mãos cheias de nada» porque resolvem apenas a liquidez mas não a solvência dos países. david scammel, analista da schroeders, salienta que os políticos europeus não têm consciência dos efeitos de contágio que uma reestruturação da dívida grega com a participação dos privados poderá ter no resto da europa. «portugal e irlanda estão destinados a anos de ajuda financeira», escreve o analista.