inspiração
stiglitz pode inspirar africanos
pode ser que de áfrica nasça a luz que permita descobrir a chave do enigma que se traduz na dúvida permanente entre as medidas correctivas mas recessivas, e as medidas expansionistas mas desestabilizadoras das contas públicas.
por ironia do destino, é também nos estados com histórias milenares que a crise na europa mais se faz sentir.
os africanos olharão para os europeus como nós olhamos para os gregos e para os romanos – e para a sabedoria que deles nos chega desde antes de cristo.
independentemente do tempo histórico da consolidação dos estados actualmente existentes nessas regiões, foi de lá (e da península ibérica) que vieram os pensamentos, ensinamentos e descobrimentos que inspiraram a humanidade durante séculos.
estamos, decididamente, num tempo de virar de página, ou antes, em muitas matérias, de mudar de livro. em todo o mundo!
nada é de ninguém e ninguém é de nada. tudo está em causa – e ninguém tem coragem de defender seja que ideologia for. comunismo? nem se fala. socialismo? não se conhece. e este capitalismo das agências de rating, quem o quer?
áfrica, e concretamente angola, começaram a virar muitas páginas, por exemplo, no direito constitucional. na revisão de há dois anos, angola construiu um modelo de base presidencialista mas com elementos bem inovadores. as receitas do velho continente já não funcionam. o problema pode ser que sejam adoptadas as de continentes com vivências políticas organizadas ainda mais antigas do que a europa.
o capitalismo da ásia – e, nomeadamente, da china e da índia – pode impor-se neste processo de desmantelamento do estado social construído desde os primórdios do século xx.
joseph stiglitz estuda muito a globalização e as relações entre os países desenvolvidos e os que estão em vias de desenvolvimento. tudo isso está em causa – e quem estiver presente na conferência do sol em luanda vai ter, seguramente, esta sensação: é preciso começar de novo!
inquietação
uma agência de rating europeia era um erro
eu também cheguei a defender uma agência de rating europeia. felizmente foi por pouco tempo que pensei assim. considero uma asneira criar agências de rating por continente – e qualquer dia por país.
o que faria de diferente uma agência de rating europeia? tratar melhor os países europeus? mas não é isso que se pretende. o que se pretende é acabar com a irracionalidade de entidades desse tipo poderem decidir sobre o futuro de estados e de comunidades nacionais inteiras.
poder-se-ia questionar: «a agência europeia vai ser independente?». mas, seja pública ou privada, alguém acredita nisso? o problema do velho continente é que, em matéria de sistema político e sistema financeiro, não inova. rege, corrige, ampara, apaga – mas não muda. dar atenção às agências de rating, tal como existem, é sinal de que a europa está gagá. e a prova de que está gagá é que, de repente, generalizou-se o pensamento contrário – e tudo fala agora contra essas agências.
não sei, sinceramente, quando é que vão perceber que é o edifício que está todo errado. continuam, agora, a defender o sistema monetário europeu e este modelo da zona euro, como aqui há semanas defendiam as agências de rating.
na prática, a europa reage de recuo em recuo com uma velocidade cada vez maior em cada mudança de posição. veja como o presidente do eurogrupo, jean claude junker, já veio esta semana admitir a revisão dos juros para os acordos celebrados com a união europeia, o fmi e o banco central europeu.
não há nada pior do que esta desorientação.
interrogação
clubes continuam a gastar milhões
mudando completamente de assunto, deve ser destacado o que se passa em portugal com os investimentos de alguns clubes de futebol.
numa altura em que o país está todo em contracção, em que se estimula a poupança, em que se apela ao investimento em produtos nacionais, alguns clubes portugueses continuam a comprar muitos jogadores – e quase todos estrangeiros.
por mim, como sportinguista assumido, fico muito contente que o meu clube se reforce e até partilho a ideia de que os actuais dirigentes estão a trabalhar com nexo.
também devemos ter presente que o futebol tem andado ao contrário do país e lhe tem dado vários ensinamentos. quando o estado, a nível internacional, é tratado depreciativamente, o futebol é alvo das maiores distinções.
é também verdade que não é igual o modelo de suporte financeiro escolhido pelos diferentes clubes que investem forte. há quem contraia empréstimos junto da banca, há quem vá buscar dinheiro a particulares. estou convencido de que muito poucos ou nenhuns capitais próprios são utilizados nestes esforços financeiros.
deve, porém, reconhecer-se que há uma excepção: o futebol clube do porto. pelo menos, pelo que se sabe até agora. mas quanto aos outros clubes que querem ser campeões, ou pelo menos ganhar uma taça, estarão a ir pelo caminho certo? oxalá que sim!