Olhamos agora para o transporte público de outra forma?
Uma boa rede de transportes públicos, rápida, barata e cómoda é sempre apelativa. Ninguém vai andar de carro se isso existir. Numa grande cidade não deveríamos ter de andar no transporte individual. Isso será o futuro, sem dúvida.
Qual o papel da crise no aumento da adesão?
Se estivéssemos todos bem, as pessoas preferiam gastar um pouco mais de dinheiro e andar de carro do que nos transportes públicos, que em Portugal são fracos. Quando há uma boa rede as pessoas não hesitam: acontece na Alemanha, Bélgica, Holanda, Reino Unido, França. Quando há pouco dinheiro, mesmo com fraca qualidade, optam pelo transporte público.
Desafio-o então a apresentar algumas medidas essenciais…
Temos de avançar com a intermodalidade nos bilhetes. Depois não estão nos bilhetes – apesar de serem caros – todos os gastos que essa empresa tem. Deve ser feita a contratualização do serviço público, o Estado paga a diferença entre o preço praticado e o custo real, mas este é empolado pelo passivo e por problemas de gestão. Temos de conseguir rapar estes custos.
Como?
Esse é o grande problema.
Concorda em que se passe a dívida para o Estado, de modo a deixar a empresa ‘limpa’?
Essa foi a solução encontrada pelos japoneses e julgo que é o caminho. Temos de arranjar uma forma de privatizar a parte da exploração sem encargos do passivo e, por outro lado, saber como se fará a gestão desse passivo. O esquema actual é que não é lógico.
Problemas como este estão na origem do congelamento do investimentos. Corremos o risco de baixar a qualidade?
O país vive do erário público. No séc. XIX dizia-se que o país vivia na manjedoura do Estado. Os investimentos do sector privado são escassos. Por isso, sem investimento público o país pára.
Esteve ligado ao projecto de alta-velocidade ferroviária…
Construiu-se uma rede de alta-velocidade rodoviária e esqueceu-se a ferrovia. Se já tivéssemos construído a linha Lisboa – Porto tinha sido mais barato. Agora o financiamento é incomportável.
Mas faz sentido termos só a ligação Poceirão-Caia?
Concordo com a ligação completa. Vamos fazer com certeza a ligação Poceirão–Lisboa. Não faz sentido nenhum chegar apenas ao Poceirão. Aliás, a primeira fase será ligar ao Pinhal Novo, que tem linha até Lisboa.