Deslocados ‘ad aeternum’ em campos humanitários africanos

Milhares de deslocados no Corno de África correm o risco de ficarem «eternamente» nos campos humanitários caso não recebam apoios que lhes permita adaptarem-se ao clima adverso e voltar a cultivar as suas terras, alerta uma responsável da FAO.

o alerta foi lançado pela chefe do serviço de operações de emergência para a áfrica, américa latina e caraíbas da organização da onu para agricultura (fao), a portuguesa cristina amaral, a poucos dias de se realizar, em roma, uma reunião de urgência para responder á crise alimentar no corno de áfrica, onde a fome e a seca ameaçam a vida de cerca de 12 milhões de pessoas.

a «tragédia humana» poderia ter um impacto minimizado, critica amaral, se os governos dos países afectados (sobretudo a somália, mas também o quénia, etiópia e djibuti) e os parceiros internacionais tivessem reagido aos alertas que a fao começou a lançar a partir de outubro de 2010, altura em que «apareceram os primeiros sinais de seca na região», já considerada a pior dos últimos 60 anos.

à lusa, a especialista lembra que as secas nesta região, situada no nordeste do continente africano, são recorrentes, mas salienta que este ano o cenário, sobretudo no sul da somália, atingiu «proporções catastróficas», visto que as populações naquela zona já perderam «a anterior e actual colheita».

de acordo com cristina amaral, para evitar que a situação fique «fora de controlo» – além da ajuda humanitária imediata aos mais necessitados – é «imprescindível» que «mais verbas internacionais sejam canalizadas para facultar às populações afectadas, sobretudo no sul da somália, os meios necessários para que não tenham de abandonar as suas terras e aldeias».

quanto à situação dos milhares de somalis que foram obrigados a refugiar-se nos campos de dadaa, no quénia, ou de dolo ado, no sudoeste da etiópia, a portuguesa é peremptória: «se estas pessoas não voltarem às suas terras e não tiverem acesso a sementes e a outros meios para replantar os seus campos até outubro, também não haverá colheita em janeiro. sem ajuda, estas pessoas podem ficar eternamente dependentes dos campos em que se refugiaram», alerta.

o mesmo risco correm milhares de pessoas que, no nordeste do quénia e no sudeste da etiópia, dependem «quase exclusivamente da pastorícia, se não conseguirem alimentar o seu gado e continuarem a perder mais animais», acrescenta.

a onu decretou na quarta-feira passada oficialmente a situação de crise de fome em bakool e lower shabelle, duas regiões do sul da somália, algo que não acontecia desde 1992. estas regiões são controladas pela milícia islâmica radical sehbab, o que tem dificultado o trabalho humanitário no terreno.

cristina amaral espera que na reunião de segunda-feira os parceiros internacionais recuperem o «tempo perdido», isto é, que cheguem a consenso «quanto à gravidade da actual situação» e determinem «uma resposta conjunta» para ajudar as populações afectadas.

para a responsável da fao, a «única solução real a longo prazo» passa por canalizar «mais verbas às comunidades para que estas possam adaptar-se ás condições climatéricas adversas e reforçar os seus meios de subsistência».

lusa/sol