Resultado Líquido

A forma vigorosa como em Portugal reagimos à descida do rating da dívida de longo prazo pela Moody’s mostrou a capacidade que temos de nos unir nos momentos difíceis. Mas também que, geralmente, só reagimos no limite, muitas vezes, mais tarde do que seria desejável.

a ideia de sermos postos no ‘lixo’ quando estávamos a iniciar um caminho que todos – ue, fmi, bce – nos diziam levar a algum lado afectou nossa auto-estima nacional. o mesmo terão sentido os irlandeses e, pior ainda, os gregos, pré-qualificados na categoria ‘caloteiros’ pelas agências de rating.

a forma como as agências têm lidado com a crise das dívidas soberanas na europa deverá, se houver ainda um pingo de lógica no mundo, mais tarde ou mais cedo, ter consequências na sua influência. assim como a trágica falta de visão dos principais líderes europeus do momento será, certamente, um dia julgada pela história.

mas, independentemente disso, estamos em crise e vamos ter que sobreviver. o corte no subsídio de natal será doloroso. e é pouco crível que sejam irrepetíveis medidas desse ou de outro tipo no curto e médio prazo, se o objectivo é, com honestidade, endireitar as nossas contas. é mais fácil – e, sobretudo, mais rápido – cobrar do que cortar. nos próximos dois ou três anos, devemos estar preparados para o pior. bem podemos estar unidos e não reagir tarde de mais. se não formos capazes de ser felizes com menos, seremos infelizes. no fim do dia, depois do esforço, cá estaremos, como sempre, para saber se valeu a pena. para já, parece cedo para grandes apostas.

ricardo.d.lopes@sol.pt