Mandamento

HÁ um estranho mandamento em televisão que diz mais ou menos isto: «Não programarás algo de verdadeiramente absurdo, a menos que tenhas um(a) apresentador(a) a quem o público perdoará quase tudo em troca de um sorriso». É um conceito que, por cá, se traduz habitualmente pela expressão ‘namoradinha de Portugal’.

coube a catarina furtado e a bárbara guimarães, hoje é coisa que está mais entregue a sílvia alberto e a joão manzarra. e o rapaz, que se tornou um íman para os programas apontados para toda a família graças a ídolos, fornece actualmente o exemplo perfeito desta ingrata posição.

chamar a música, com que a sic enche as suas noites de sábado, é seguramente uma das piores ideias televisivas dos últimos tempos. um concurso sem vestígios de piada, em que os concorrentes pouco mais fazem do que passear-se pelo palco a completar músicas, numa mistura de karaoke (em que não interessa cantar afinado) com o jogo da forca (basta preencher os espaços).

o trágico já nem é tentar enfiar tamanha tolice pela goela abaixo do público; é antes esta bizarra mania de que um apresentador – que demonstre versatilidade e dê mostras de poder salvar programas sem pés nem cabeça – fique irremediavelmente preso a estes formatos descabidos, ao invés de poder construir uma carreira minimamente sóbria. no fundo, trata-se de uma violenta hipoteca de personalidade.

bárbara guimarães teve de penar para fazer uns programas sobre livros, catarina furtado a mesma coisa para levar a cabo príncipes do nada. mas quem são manzarra e sílvia alberto? não sabemos. e provavelmente nunca saberemos. porque dar-lhes um programa pensado para eles, isso podia meter-lhes na cabeça a ideia de que não são pau para toda a obra.