obama estava numa posição muito difícil. mas fez muito pouco para a melhorar. os republicanos perceberam que está na casa branca alguém sem grande força de liderança.
e – recorde-se – obama e os outros pré-candidatos estão a um ano e quatro meses de eleições.
este processo da negociação do limite da dívida tinha um enquadramento muito complicado.
mas a declaração de barack obama no domingo à noite foi uma perfeita desgraça. quando o mundo precisava de ver força e de sentir esperança, apareceu um presidente desanimado, vergado pelos seus opositores, transmitindo, mesmo, uma certa saturação.
as reacções dos mercados falaram por si. à hora a que obama falou estavam já abertos alguns mercados asiáticos. e, com o passar do dia, a descrença começou a intensificar-se.
as descidas dos títulos cotados na generalidade das bolsas mundiais dificilmente teriam sido mais graves se não tivesse existido acordo.
os republicanos impuseram a sua visão, as suas ideias, as suas medidas. ‘no more taxes’, cortes drásticos na despesa, incluindo despesas sociais, a tudo isso barack obama teve de anuir.
para sermos justos, importa reconhecer que, com a envolvente das últimas semanas, também não seria fácil a um presidente republicano – se a situação fosse a inversa – recusar propostas de maiores despesas sociais e de maior presença do estado.
o sistema presidencial é complicado. um presidente não ter maioria no congresso, como acontece agora, leva a que o programa do executivo seja muito posto em causa.
há, pois, razões várias que explicam a cedência de barack obama. mas se umas são atenuantes, outra há que lhe é directamente imputável: não comandar, ter perdido a liderança dos acontecimentos, não criar, com antecedência, o quadro de mobilidade dos intervenientes políticos dentro de parâmetros que não lhe sejam muito desfavoráveis.
devia, pela voz dos responsáveis do tesouro, ter deixado claro o que os eua não aceitariam que constasse do acordo. estabelecer limites, fronteiras que não poderiam ser ultrapassadas.
não conseguiu fazer nada disso, pelo contrário, foi deixando andar as negociações.
repito: a sua imagem no domingo à noite foi desoladora. cinzenta, muito cinzenta.
os lobos atacam os fracos
pela europa tocam, outra vez, os sinos a rebate: agora é a espanha e a itália.
será que ninguém entende o significado desta cadência?
entender, entendem. mas não agem. reagem e tarde. não entenderão que, depois, ‘os lobos descerão aos povoados’ da bélgica e da frança?
prevenir em vez de remediar – já ensinavam os nossos avós. não há ninguém que o entenda?
quem lê estas páginas terá mais que fazer do que lembrar-se do que eu disse ou escrevi há seis meses, logo no início do ano: os governos com situações financeiras complicadas, com endividamentos pesados, deveriam unir esforços – até para, depois, conseguirem a convergência com os países mais estáveis.
mas preferiram disfarçar e andar cada um por si, na ilusão de que os lobos não os veriam e que, desse modo, poderiam escapar. que ilusão!
não foram importantes as medidas do último conselho europeu? foram, sem dúvida. principalmente para a grécia, com reflexos para a irlanda e portugal. mas sublinho: não vale a pena pensar que alguém ferido conseguirá escapar. os lobos, se sentirem fragilidade, atacam. só fogem se virem e sentirem mais força do outro lado.
o problema, o grande problema, é a junção das dificuldades na união europeia e nos eua. dólar à luta com o euro? nem se acredita em tanta falta de sensatez. a continuarem assim, acabam mesmo com o que vai restar do estado social.
antónio josé seguro e ‘frente tejo’
quero assinalar dois factos com inequívoco significado, embora de naturezas muito diferentes.
o primeiro é o início de funções do novo secretário-geral do ps, o novo líder da oposição. antónio josé seguro entra com expectativas baixas, dentro e fora do seu partido. bom para ele. em portugal, e não só, as previsões consensuais normalmente saem furadas.
sobre o novo líder do ps tem-se dito que dispõe de pouca margem de manobra, por causa do memorando assinado com o fmi. concordo que a margem de manobra é muito reduzida. mas espero que a razão principal seja a situação do país, independentemente dos compromissos externos.
sempre me fez muita confusão que as oposições tenham de discordar de quase tudo aquilo que os governos fazem. num tempo em que soçobraram as ideologias tradicionais, menores são os motivos para tanta diferença.
o partido socialista foi poder durante muito tempo, cerca de 12 anos, nos últimos 15. são óbvias, para os portugueses, as responsabilidades que tem na crise que portugal vive. as possibilidades de seguro durar na liderança do ps dependem, em minha opinião, da sua capacidade para ser consensual. mais, muito mais, do que da intensidade de se opor, de modo tradicional, a tudo o que o governo e a maioria anunciarem.
o segundo facto que quero destacar é a extinção da sociedade ‘frente tejo’, tal como existe.
tive ocasião, na campanha autárquica de 2009, de exprimir a minha discordância quanto à criação dessa empresa e ao facto de lhe terem sido atribuídas importantes competências em áreas fundamentais para lisboa. e ainda a inacreditável situação de a câmara de lisboa não participar, com uma acção que fosse, no capital da ‘frente tejo’.
confesso que tive algumas dúvidas de que esta decisão viesse a acontecer. por razões várias admiti que, pelo menos, demorasse. afinal, não! registe-se a determinação de miguel relvas e do governo – e, também, o modo contido e sensato como antónio costa e a maioria da câmara acolheram a decisão.