Equinócios e Solstícios

António Costa tomou posse como presidente da Câmara Municipal de Lisboa em 1 de Agosto de 2007, fez agora quatro anos. Interessa muito? Interessa pouco? Quatro anos é o tempo de um mandato…

desolador

o balanço de antónio costa

este período foi dividido em dois, por razões conhecidas: antónio costa sucedeu a carmona rodrigues, quando este teve de cessar funções, e depois houve as eleições autárquicas ‘normais’ em outubro de 2009.

ao fim dos primeiros dois anos, antónio costa mudou a equipa quase toda. manuel salgado ficou. mas saíram marcos perestrelo, ana sara brito, cardoso da silva, rosália vargas. ou seja, mudou o vice-presidente, a vereadora da habitação, a vereador das finanças e a vereadora da cultura. instabilidade? não, até sinal de dinamismo – dizem. em condições normais, poderia parecer estranho. mas neste caso não merece análise ou ponderação.

em 2009 disse-se que a cml tinha «a casa arrumada» e que, a partir daí, se iria passar a uma nova fase. esta semana ouviu-se que lisboa e gaia são as câmaras mais endividadas. verdade? importante? não sei… saí da câmara de lisboa há quase seis anos.

garanto que não quero dizer mal… deus me livre! não me passaria pela ideia semelhante ousadia.

mas detesto injustiças e penso que a equipa que está em funções merecia alguma atenção. é costume dizer-se que não há nada pior do que o desprezo.

pode dizer-se bem ou dizer-se mal… mas não dar atenção nenhuma, não dizer nem escrever nada, fazer de conta que as pessoas não estão lá, é uma atitude que merece censura.

por contraste, houve vários balanços do primeiro mês de governo do país. como perceber esta discrepância?

devastador

é preciso pôr racionalidade no sistema

quando se realizar a conferência internacional sobre a crise das dívidas e dos sistemas financeiro e monetário tem de fazer parte da agenda um novo regime jurídico dos mercados de capitais.

sei muito bem que é tratado como ‘herético’ ou ‘disparatado’ o que se diz antes do devido tempo.

assim tem sido com as críticas ao estúpido e irracional pacto de estabilidade e crescimento, assim tem sido com a política agrícola e de pescas, assim tem sido com o euro e a inevitável alteração que vai conhecer, assim acontecerá com esta ideia de que os mercados de capitais não podem funcionar com a liberdade que têm hoje.

com a comunicação globalizada e instantânea, torna-se inevitável que os receios sobre a economia de qualquer parte do mundo contagiem facilmente o resto do globo.

todos sabemos como nessas praças os movimentos especulativos são frequentemente tentados. e todos estamos cientes da importância da componente psicológica para as decisões que se tomam de compra ou de venda dos títulos transaccionáveis.

nos tempos que correm, uma notícia sobre um movimento negativo numa praça financeira pode inverter de um momento para o outro, noutras bolsas, um dia até aí positivo. e, de modo repentino, criar ondas de pânico com consequências devastadoras no valor das empresas.

pensemos nas unidades empresariais que, em portugal, estão perto da privatização. vejamos a desvalorização que tiveram nas últimas semanas. será possível que as privatizações decorram no calendário que estava estabelecido? não parece razoável.

ora a questão é essa: os efeitos dos mercados de capitais nas economias dos países. para lá dos efeitos no valor das empresas, há as consequências nas decisões de investimento, na criação de emprego (ou na supressão de postos de trabalho), enfim, na riqueza das pessoas, das famílias, das nações, dos estados.

será de limitar as perdas e os ganhos em cada sessão? já aconteceu em portugal, há poucas décadas, e também tem efeitos perversos. mas novas soluções devem ser encontradas, porque as economias não podem continuar à mercê destas sessões diárias. é a lógica do sistema que é posta em causa? pois é! em parte, pelo menos.

ao fim e ao cabo, é um pouco a mesma questão das agências de rating: os mercados e as economias, na globalidade das suas dimensões, não podem estar sujeitos à irracionalidade ou à subjectividade de decisões de alguns grupos de pessoas, compradores ou vendedores de títulos ou responsáveis de empresas de notação financeira.

repito again and again: a propósito de desregulação, vejam o inside job (em português, o segredo da crise).

mobilizador

está a começar um novo tempo

as pessoas têm de entender que não foi só o estado social, como o conhecíamos na europa, que acabou. foi, também, um determinado tipo de capitalismo.

como já várias vezes escrevi neste espaço, a crise que se começou por chamar de subprime é acima de tudo uma crise de valor – valor dos bens, dos activos.

o que se passa na europa e nos estados unidos é que a dedução que começou a ser feita pelas operações aritméticas dos balanços das empresas passou para a mente das pessoas – e para a percepção da realidade que as circunda.

o capitalismo e as regras dos mercados não podem funcionar mais como até aqui. o imobiliário e o sector da construção são hoje o espelho mais real dessa ficção em que se viveu. construir casas em muito maior número do que as pessoas ou famílias que existem é bem a prova de uma irracionalidade generalizada. mas não só as casas perderam valor, e não só esse tipo de activos nunca mais volta a valer o que valia.

tal como hoje se diz que estádios do euro-2004 poderão ir abaixo, também muitos fogos de habitação terão de ser demolidos. e também no sistema financeiro e no sistema monetário terá de haver igual vontade regeneradora.

muitos produtos terão de ser suprimidos, muitas regras terão de ser banidas.

há muitas pessoas assustadas com o que está a acontecer, a vários níveis, em portugal, na europa e no mundo. é natural. sugiro que pensem, também, que está a começar um novo tempo. o que não deixa de ser fascinante.