não é que tenha obrigatoriamente de haver sempre um objecto estranho nas longas horas de programação de tantos canais, mas é estranho (e pouco saudável) que não haja sempre uma qualquer série que nos inquiete e não se desvende totalmente logo de início.
claro que não se está aqui a dizer que séries como twin peaks ou o reino (a primeira de david lynch, a segunda de lars von trier) deveriam elas próprias tornar-se uma fórmula a ponto de haver um canal temático que as acolhesse, mas a excessiva padronização a que hoje assistimos – imagina-se – teria como consequência quase fatal o surgimento destas ‘aberrações’ televisivas. afinal, tudo continua sempre a passar-se numa esquadra de polícia, numa sala de médico legista, num hospital, num escritório de advogados ou num qualquer cenário em que reinem o sobrenatural e os dons excepcionais.
uma das últimas promessas de concretizar a fuga a esta normalização chegou ao axn há dois meses e chama-se inadaptados. mas a premissa de seis adolescentes delinquentes britânicos condenados a uma pena de seis semanas de serviço cívico rapidamente descamba numa série entregue aos tais dons recebidos durante uma tempestade. e ainda que consiga contornar com alguma elegância a vulgaridade, lá se foi mais uma oportunidade de não resumir tudo ao facilitismo do sobrenatural. de repente, quase se percebe a felicidade terrena d’as irmãs mcleod.