As duas novas caras do Cinco para a Meia-Noite

Uma é loira, a outra é morena. Uma estudou Grego, a outra começou como modelo. Carla Vasconcelos e Luísa Barbosa são as duas novas caras do Cinco para a Meia-Noite, o programa tardio da RTP2 que já se tornou um fenómeno de culto.

carla vasconcelos

não queria ser actriz, o ofício surgiu por acaso: «eu ia tirar grego. nunca quis ser actriz. quando me fui inscrever para grego a turma só podia ser feita para cinco alunos. havia uma opção de teatro… e o meu raciocínio foi: grécia-teatro, posso ir estudar tragédia grega», conta carla vasconcelos. seguiu-se o curso no teatro da comuna e foi mais tarde para o conservatório, que não chegou a acabar porque fazia teatro ao mesmo tempo. a sua primeira peça foi a lisístrata, de aristófanes. mais tarde, decidiu fazer commedia dell’arte. «é uma coisa que odeio. mas é importante os actores terem uma noção do que podem fazer em toda a sua amplitude. fui para itália, estivemos lá um tempo a estudar. fiz o curso do antónio fava, um dos grandes mestres de commedia dell’arte ainda vivos».

apaixonou-se pela cidade de nova iorque, onde vai todos os anos, quando fez o one year program no american comedy institute: «trabalhei cá com um americano, o steven rosenfield, e ele disse-me ‘vai lá, experimenta… fazes um workshop daqueles de quinze dias’. eu pensei: ‘odeio nova iorque!’. mas nesses 15 dias apaixonei-me».

a participação n’os contemporâneos surgiu a convite de bruno nogueira, que concebeu o programa e «reuniu as pessoas com quem mais queria trabalhar naquele momento». num registo totalmente diferente, carla vasconcelos também fez parte do elenco da série da tvi morangos com açúcar. diz nunca se ter divertido tanto como ali. além disso venceu um velho preconceito: «adorei os morangos com açúcar. diverti-me imenso. nós, actores, temos um preconceito relativamente à televisão, como sendo uma coisa menor. e telenovelas então… depois começamos a perceber que o teatro não paga as contas em portugal. se quisermos viver só do ‘teatrinho’ não é possível. a televisão é uma porta para trabalhar enquanto actor».

agora, depara-se-lhe um desafio ainda maior. não estava nervosa para o casting, porque na profissão de actor, segundo carla, «nós estamos habituados a ser chicoteados». foi seleccionada e escolheu rui unas para o primeiro programa «porque se aquilo corresse mal ele salvava-me. eu estava a começar a fazer algo que ele faz há anos».

a nova apresentadora do 5 para a meia-noite prefere não ler os comentários dos telespectadores do talk show no blogue e na página do facebook. acredita que «a internet abriu um espaço que permite às pessoas dizerem todas as anormalidades que têm dentro da cabeça, sem pejo absolutamente nenhum, coisas que cá fora nunca se atreveriam a dizer porque não têm espinha para isso». avalia-se revendo o programa, e consultando a opinião dos que estão à sua volta.

na sua vida pessoal, carla vasconcelos confessa que prefere estar acompanhada: «odeio estar sozinha. o que eu gosto mais é de ter os amigos em casa. e de namorar, obviamente». vai ao cinema com regularidade mas ir ao teatro é-lhe mais difícil. «é aquela história. os colegas não conseguem ver os colegas. confesso que às vezes estou tão cansada que já não me apetece ir».

luísa barbosa

quando soube que tinha sido uma das escolhidas do casting, luísa barbosa estava em casa a ver o documentário josé e pilar, de miguel gonçalves mendes. por esse motivo, escolheu entrevistar pilar del rio na sua estreia: «no dia em que recebi o telefonema a dizer que era uma das escolhidas para apresentar o 5 para a meia-noite estava a ver o documentário. lembro-me de achar que ela era uma mulher fantástica, forte, mas com a incrível capacidade de amar para ter assumido um segundo plano na vida do marido. e eu achei esse contraste muito interessante. e tive imensa sorte porque ela aceitou o convite. precisamos de mulheres fortes e acho que foi uma forma de começar a estabelecer o meu registo no programa».

os nervos, confessa, estavam presentes quando entrou finalmente em directo para portugal por setenta minutos. diz ter ficado satisfeita com o resultado final: «no meu primeiro programa aquilo que podia ter corrido muito bem ou muito mal era a entrevista com a pilar, e isso foi a fonte de alguns nervos extra. no final fiquei meio dormente porque, honestamente – e eu sei que não é unânime –, não achei que tivesse corrido mal, achei que até correu bem».

luísa barbosa encara o desafio como «uma grande responsabilidade». «nós não queremos deixar ninguém mal, não é?». o que vai trazer de novo é a sua postura, que acredita que vai necessariamente distinguir-se da dos apresentadores que a precederam.

deixou vila nova de poiares com apenas 15 anos, quando veio «morar com uns primos, para conciliar duas coisas – começar a trabalhar como modelo, e continuar a estudar, continuar o secundário. a nível de educação os meus pais e os meus primos acharam que seria benéfico. eu tinha boas notas e ser desafiada só poderia ajudar. acho que beneficiei muito em ter vindo estudar para lisboa. na altura vila nova de poiares era mais isolado». foi estudar para a escola secundária de miraflores, nos arredores de lisboa. «aí esperavam que nós tivéssemos uma noção do que se passava no mundo, que estivéssemos atentos às notícias e aos jornais. fiquei melhor preparada para o ensino superior». depois do secundário, luísa licenciou-se em direito pela faculdade clássica de lisboa.

o bichinho da televisão surgiu, quando começou a fazer publicidade como modelo. «os bastidores, a forma como se fazem as coisas começou a atrair-me para a televisão». dez anos depois de ter chegado à capital, a televisão deu-lhe a primeira oportunidade: trabalhar na mtv portugal. luísa foi a escolhida do casting, enquanto ainda fazia o estágio do curso, para substituir filomena cautela como nova apresentadora do canal. ironia do destino ou não, voltou a ocupar o lugar da ex-apresentadora do 5 para a meia-noite. o desafio é enorme, mas acredita que, com muita preparação, não terá problemas em ser bem-sucedida.

sonia.cecilio@sol.pt