Depois do almoço

Há uma tendência natural em cada um de nós para mitificar o seu crescimento e achar que, por uma razão ou outra, tudo tinha um encanto redobrado ao virar essas esquinas do passado.

e, por mais que se tente, é complicado encontrar no presente ícones à altura dos que nos enformam as memórias. concretizando: há uns anos, nem tantos assim, as estações de televisão apercebiam-se da chegada das férias escolares. por isso, abasteciam a sua programação pós-almoço com séries que convidavam à alegre vida de sofá. os jovens heróis de shaolin, verão azul ou agora escolha eram disso exemplos perfeitos.

mas, com a generalização da televisão por cabo, criou-se a falsa ideia de que as alternativas à programação tradicional encontram-se já devidamente cobertas. por isso, a sazonalidade é coisa que não existe. rtp, sic e tvi mantêm as suas tardes ocupadas com os mesmos programas a pensar na população reformada, enquanto os temáticos de filmes e séries, por exemplo, mantêm igualmente a sua grelha intacta, repetindo ad nauseam os mesmos títulos de sempre, sem tirar nem pôr.

daí que seja curioso aventurarmo-nos por canais menos usuais nas nossas escolhas diárias. e aí, por muito que a adequação seja também inexistente, descobrem-se objectos razoavelmente fascinantes. para quem nunca andou muito pela food network, fique sabendo que tem em guy’s big bite uma culinária à medida dos amantes de hard rock – parece inconciliável, mas não é. para quem tem saudades dos jovens heróis de shaolin, há uma proposta inesperada e com igual potencial de adrenalina: macacos ladrões, na national geographic, uma espécie de filme de aventuras protagonizado por dois símios, tarak e rani, que vivem perigosamente na caótica cidade de jaipur. às vezes é preciso andar muito para voltar ao início.