mais uma vez
ninguém podia levar a mal se os católicos cometessem em massa o pecado do orgulho. é no sentido de ter orgulho dos filhos, dos pais, do país, que os católicos podem estar orgulhosos do papa bento xvi. apesar de o brilhantismo das suas intervenções não ser novidade, as que vão ao encontro dos problemas sociais e culturais mostram uma sabedoria e uma preocupação tão finas que põem a igreja católica no centro do debate mundial. o discurso de bento xvi no encontro com jovens professores universitários na basílica de são lourenço do escorial é mais uma prova do seu brilho. o papa advertiu os fiéis para o problema do pragmatismo e da especialização e lembrou a função essencial da universidade: a procura da verdade. o papa falou da sua experiência como professor universitário e recordou o prazer da discussão, condenando a ideia actual da universidade como fábrica de produtos utilitários. quando se fala de educação parece que se está inevitavelmente a falar de emprego; de licenciaturas que servem para assegurar um futuro de conforto e estabilidade. sabemos que nem sempre acaba assim. mas, pior, esquecemos que nem sequer devia ter começado por esse motivo.
viver para ouvir
julian treasure preside à consultora the sound agency, sediada no reino unido. a empresa tem como função apoiar os seus clientes (da bp ao harrods) a tirar partido do som nas respectivas áreas de negócio. julian treasure é músico e já vai na terceira ted talk sobre o tema que o apaixona. em «cinco maneiras de ouvir melhor», disponível em vídeo no site das ted talks, treasure adverte para os perigos de estarmos a deixar de prestar atenção ao que nos é dito. um mundo demasiado barulhento torna os ouvintes impacientes. e a impaciência conduz ao desinteresse, à incompreensão e ao desejo de isolamento. o excesso de barulho é assim descrito como um problema mais grave do que adivinhávamos. não é só um barulho que incomoda, mas um ruído que nos afasta uns dos outros. as implicações são também elas ruidosas: prestamos atenção a quem grita e ignoramos a subtileza silenciosa. estamos a meio caminho da interpretação precipitada, dos mal-entendidos. são más notícias. julian treasure propõe soluções que vão da dieta auditiva (três minutos de silêncio absoluto por dia) ao estudo da melhor posição para ouvir bem. era bom perceber sem ter de ouvir nada. mas isso não existe.
palavras obsoletas
a 12.ª edição do concise oxford english dictionary incluirá 400 novos vocábulos. os mais recentes são retweet e sexting, entre outros entretanto adoptados a partir da mesma fonte tecnológica. entendo a inclusão de novas palavras no léxico como uma festa maravilhosa e prova de vida da língua falada. mas a acompanhar a novidade, li no guardian a triste nova da retirada do dicionário collins de uma série de palavras caídas em desuso. aerodrome (aeródromo), wittol (um homem que tolera a infidelidade da mulher), succedaneum (sucedâneo, pois claro) e stauroscope (estauroscópio, um instrumento usado para estudar os minerais). é certo que estes e outros vocábulos caídos em desuso não vão desaparecer de vez dos dicionários. só não estarão presentes nas versões abreviadas. a informação dá uma ideia geral do que se passa na nobre actividade de compilar um dicionário. os de bolso incluem as palavras mais usadas, enquanto as edições em vários tomos são ocupadas por vocábulos de todas as idades, independentemente da frequência no seu uso. haveria muito a dizer sobre passarmos a ter lol em vez de succedaneum no collins. mas não me quero entristecer.
buffett! buffett!
na semana passada, o milionário warren buffett escreveu um artigo no new york times com o título, «parem de mimar os ricos». resumindo, buffett propunha que os sacrifícios que os eua fazem por causa das guerras, da crise financeira, da falta de emprego, etc., fossem mais justamente partilhados. os ricos deviam, pelo menos, pagar mais impostos e não ser tão escandalosamente protegidos pelos governos. a ideia tem sido proposta por vários intelectuais nas últimas décadas. estou a lembrar-me do controverso peter singer, que propôs há uns anos que mesmo aqueles que, não sendo ricos, tinham o que se pode considerar o suficiente para viver, tinham a obrigação de dar uma parte dos seus lucros para melhorar a vida dos menos afortunados. penso, no entanto, que é mais forte esta proposta partir de um milionário que de um filósofo. primeiro, porque é uma realidade que podia fazer a diferença. em segundo lugar, porque um rico patriota, com preocupações comunitárias e sentido de responsabilidade social tem muito mais pinta que um académico. buffett será de esquerda? penso que não. porém, um rico de esquerda seria tão admirável como um pobre conservador.
rapazes giros a ler
não sei como fui lá parar, mas descobri um blogue divertido de uma rapariga chamada alli rense. o conteúdo está resumido no título: hot guys reading books. não há mais nada neste sítio virtual a não ser uma série de fotografias enviadas por leitores e por amigos da autora de rapazes giros a ler livros. as legendas das imagens são curtas e indicam pouco mais que o nome do rapaz e o título do livro. é curioso observar que muitos estão em pose. não foram apanhados a ler. tinha sido mais engraçado captar a espontaneidade e talvez poupasse os modelos giros à situação embaraçosa de serem fotografados a não passar da página dez. o blogue fez-me lembrar a série de fotografias de marilyn monroe a ler livros e de audrey hepburn a comer bolos. a necessidade de mostrar que monroe sabia ler e que hepburn não passava fome vai ao encontro da superstição de que as mulheres giras são burras e que as magras não comem. chegou a hora de salvar os rapazes giros. já lá vai o tempo em que um rapaz só precisava de ser alto. agora a fasquia está mais alta. precisa de ler bons livros. mas precisa sobretudo de quem o fotografe a ler e saiba enviar a imagem para este blogue.