velocidade
suspender tgv será o melhor para portugal?
em primeiro lugar, a questão da alta velocidade ferroviária e da bitola europeia. como se sabe, a agitação já começou e o ministro santos pereira «deu o mote» com as declarações que fez em madrid, na passada semana. apesar de ter estado muito tempo no canadá, o ministro tem obrigação de saber bem «que terreno pisava» com essas palavras, pois, entre outras razões, a sua «super-assessora» tem vários anos de conselheira na nossa embaixada em madrid.
tgv suspenso, ou não, bitola europeia sim, para mercadorias, claro, para pessoas, ainda não se sabe. a partir de sines, do poceirão, de lisboa? marcelo rebelo de sousa já veio dizer de sua justiça: ligação a lisboa, com passagem pela ponte 25 de abril e, portanto, sem nova travessia (alguns residentes em cascais têm «boas pontes»…).
aeroporto, ana aeroportos, tgv. tomem boa nota, porque muito se vai decidir aqui.
espanha quer o tgv, já tem a linha do lado de lá muito avançada. em 650 quilómetros de extensão, tem mais de 400 em projecto e muita obra. e não quer perder os fundos comunitários.
muitos destes factos já eram conhecidos antes das eleições e os partidos que integram a coligação do governo pronunciaram-se pela efectiva suspensão de todo o projecto? é verdade. mas o que será melhor para portugal? já muitas vezes disse o que penso sobre este assunto.
complexidadeprivatizar, ou não, a rtp
segunda questão muito relevante: a privatização, ou não, da rtp. esta matéria mexe, também, com muitos circuitos de poder. naturalmente, tudo o que tenha a ver com comunicação social é sempre relevante. mas, aqui, estamos a tratar de matéria muito séria.
num certo plano, é importante a negociação dos direitos televisivos do benfica para os próximos anos. sport tv? tvi? não é, obviamente, indiferente. mas, como se compreende, agitar a estrutura de poder das televisões privadas, é matéria muito sensível.
é visível muita agitação nas opiniões, escritas ou faladas, sobre o ministro miguel relvas. há um conflito aberto e assumido entre a impresa e a ongoing. francisco pinto balsemão ‘veio a terreiro’ dar uma entrevista especialmente acutilante contra a hipótese de ser privatizado um canal da televisão pública. entretanto, o expresso, todas as semanas, tem dedicado especial atenção a situações a que estão (ou são) ligadas pessoas ou entidades aqui referidas.
razão? há argumentos vários a ponderar: as dificuldades do mercado publicitário, a necessidade de concorrência e de nova dinâmica com novos operadores e novos investidores, as limitações dos recursos públicos…
decisões políticas complicadas. a privatização da rtp estava assumida no programa de um dos partidos da coligação, no caso, o maior deles. o outro preferia que, agora, «não se agitassem essas águas».
no tgv, antes das eleições, ambos diziam ‘não’. na rtp, um dizia que ‘sim’, o outro que ‘não’… já se viu, com o primeiro tema, que pode acontecer aquilo que ocorre de quando em vez: razões de estado subjugarem o discurso eleitoral.
estes dois assuntos terão, certamente, reflexos de várias dimensões na vida nacional. não serão fáceis para ninguém. podem pôr em causa a estabilidade governativa? não acredito.
proximidadeenvergadura nos processos de decisão
o terceiro tema respeita a uma matéria na qual os dois partidos da coligação foram categóricos, bem afirmativos, no que disseram antes das eleições. não disseram ambos ‘não’, como no tgv, não disseram um ‘sim’ e outro ‘não’ como na rtp… disseram ambos que ‘sim’.
‘sim’ à extinção de organismos inúteis e à consequente redução da despesa pública. ao fim e ao cabo, estamos a falar das medidas que o ministro das finanças anunciou para 31 de agosto, numa fase já próxima da conclusão do orçamento de estado para 2012.
por razões várias, o governo anunciou, até agora, sobretudo, medidas do lado da receita fiscal. o que tem provocado um coro de opiniões que lembram ser essa uma «receita estafada» que leva a que sejam sempre os mesmos a suportar as consequências dos desvios-surpresa no défice, mais ou menos colossais.
é bom sublinhar que essas medidas não são nada fáceis de aplicar, até porque acarretam mais despesa no período subsequente. na verdade, ao extinguir organismos do estado, o governo tem, naturalmente, de assumir as consequentes indemnizações que possam ser devidas pela supressão de vínculos laborais. noutro plano de obrigações, ao extinguir a parque expo, o governo terá, igualmente, de decidir o que fazer com a dívida de mais de 220 milhões de euros que, em princípio, terá de assumir.
sublinhe-se que a extinção da frente tejo e da parque expo, para além da fusão do instituto do desporto com o da juventude e com a movijovem, são os bons exemplos do caminho que o governo tem de seguir. só que, como referi, as consequências, no défice ou na dívida, entre outras, são complicadas e, no curto prazo, não favorecem as metas que o governo e o país se comprometeram a alcançar.
vou lidando, na minha vida profissional, com o interesse de muitas entidades, nomeadamente, fundos de investimento estrangeiros, pelo que se vai passar com a economia portuguesa, nos próximos tempos. devo dizer que, em vários casos, me deparo, mesmo em redes de consultores internacionais, com questões que revelam um interesse, para mim por vezes inesperado, em empresas portuguesas que estão em situações financeiras muito complicadas.
estamos num tempo em que portugal necessita de envergadura nos processos de decisão que tem pela frente. o imperativo de uma nova maneira de pensar o país é muito mais forte do que uma necessidade de mudança de protagonistas. a imaginação, a ousadia, a criatividade no desenho dos novos tempos, exigem saber, lucidez e inteligência.
se a rtp ou o tgv não fazem cair um governo, outras matérias podem ter esse poder. uma delas seria a de este governo manter a dimensão do estado. impossível, felizmente, pelos propósitos anunciados e pelas decisões já conhecidas.
vão ser tempos politicamente exigentes e fascinantes os que aí vêm.