A raiz da vinha

Vivemos no país com mais variedade de castas autóctones, são cerca de 250 e já estão a ser desenvolvidos estudos que podem vir a descobrir mais. «Acredito que há várias dezenas que não estão ainda referenciadas, só nos últimos anos descobrimos mais cinco variedades de castas», afirma ao SOL Antero Martins, professor do Instituto Superior…

existem quase três vezes mais variedades de castas do que em itália e seis vezes mais do que em espanha e em frança. esta constatação constitui uma vantagem competitiva para o sector vitivinícola e ajuda a desmistificar a crença de que as videiras foram trazidas do oriente. afinal, nasceram cá e não vieram com os mercadores fenícios, como se pensava até agora.

«as nossas castas, além de serem as mais numerosas da europa, são quase todas exclusivas», garante o especialista. há alguma sobreposição com espanha, em especial, nas zonas fronteiriças, mas os trabalhos da porvid provaram que não há vestígios das nossas castas no oriente, nem sequer no caminho até à península ibérica.

através de técnicas sofisticadas consegue-se olhar para o passado das castas e comprovar que existe uma maior parecença genética entre as autóctones e as silvestres de uma determinada região, em comparação com castas e plantas silvestres de regiões distintas.

para antero martins a diversidade de castas só enriquece o mercado do vinho, considerado um dos produtos mais emblemáticos do país. no entanto, mais importante do que a variedade das castas são as diferenças dentro das próprias castas. estas são «difíceis de ver a olho nu e estão em risco de acabar», alerta. se nada for feito «em 2020, pode perder-se toda a diversidade genética (mutações naturais) de cada casta e, como consequência, a possibilidade de fazer diferentes vinhos».

até meados dos anos 80, a situação era propícia à conservação da variabilidade, mas quando os vitivinicultores deixaram de ser, eles próprios, os enxertistas e passaram a comprar as plantas nos viveiros, as amostras de videira homogeneizaram-se. «todos os agricultores acabam por adquirir material igual», afirma antero martins, para quem esta é uma «consequência perversa do progresso».

a porvid surge como uma plataforma de esforços – públicos e privados – para evitar esta perda. o trabalho começa por ‘varrer’ o território e colher amostras que sejam representativas da variedade, dentro de cada casta autóctone, e plantá-las num pólo experimental em pegões, cedido pelo estado.

características como a quantidade de açúcar, a acidez do mosto ou os pigmentos são avaliadas e comparadas. «explorar estas diferenças pode servir para aumentar cinco vezes o rendimento de determinada casta», sublinha. o teor alcoólico é outro dos factores que pode ser manipulado naturalmente apenas com base na variabilidade da videira.

joana.andrade@sol.pt