existem quase três vezes mais variedades de castas do que em itália e seis vezes mais do que em espanha e em frança. esta constatação constitui uma vantagem competitiva para o sector vitivinícola e ajuda a desmistificar a crença de que as videiras foram trazidas do oriente. afinal, nasceram cá e não vieram com os mercadores fenícios, como se pensava até agora.
«as nossas castas, além de serem as mais numerosas da europa, são quase todas exclusivas», garante o especialista. há alguma sobreposição com espanha, em especial, nas zonas fronteiriças, mas os trabalhos da porvid provaram que não há vestígios das nossas castas no oriente, nem sequer no caminho até à península ibérica.
através de técnicas sofisticadas consegue-se olhar para o passado das castas e comprovar que existe uma maior parecença genética entre as autóctones e as silvestres de uma determinada região, em comparação com castas e plantas silvestres de regiões distintas.
para antero martins a diversidade de castas só enriquece o mercado do vinho, considerado um dos produtos mais emblemáticos do país. no entanto, mais importante do que a variedade das castas são as diferenças dentro das próprias castas. estas são «difíceis de ver a olho nu e estão em risco de acabar», alerta. se nada for feito «em 2020, pode perder-se toda a diversidade genética (mutações naturais) de cada casta e, como consequência, a possibilidade de fazer diferentes vinhos».
até meados dos anos 80, a situação era propícia à conservação da variabilidade, mas quando os vitivinicultores deixaram de ser, eles próprios, os enxertistas e passaram a comprar as plantas nos viveiros, as amostras de videira homogeneizaram-se. «todos os agricultores acabam por adquirir material igual», afirma antero martins, para quem esta é uma «consequência perversa do progresso».
a porvid surge como uma plataforma de esforços – públicos e privados – para evitar esta perda. o trabalho começa por ‘varrer’ o território e colher amostras que sejam representativas da variedade, dentro de cada casta autóctone, e plantá-las num pólo experimental em pegões, cedido pelo estado.
características como a quantidade de açúcar, a acidez do mosto ou os pigmentos são avaliadas e comparadas. «explorar estas diferenças pode servir para aumentar cinco vezes o rendimento de determinada casta», sublinha. o teor alcoólico é outro dos factores que pode ser manipulado naturalmente apenas com base na variabilidade da videira.